Em sua fala na abertura do ciclo TALKS/Foto: Reflexões, que aconteceu nos dias 20 e 21 de agosto, na SP-Arte/Foto, a jornalista e crítica Simonetta Persichetti afirmou que “a fotografia, que sempre teve importância fundamental desde a sua invenção, cada vez mais se torna protagonista da nossa história. Se no século XIX ela registrou o mundo, no século XX ela o interpretou e no século XXI ela é livre para narrar o que quiser”.

Persichetti também ressaltou que “muitos apocalípticos” já anunciaram o fim, a morte da fotografia, do fotojornalismo e do fotodocumentário. “Porém, eles nunca estiveram tão vivos, nunca a fotografia esteve tão presente, em feiras, bienais, museus”, disse, lembrando ainda a explosão na produção de imagens em plataformas diversas, a exemplo de redes sociais, como o Instagram.

Também convidada do TALKS/Foto: Reflexões, a norte-americana Sarah Meister, curadora do departamento de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), elogiou os trabalhos de jovens fotógrafos presentes na feira, como Ivan Grilo, fez coro com Persichetti e comemorou o fato de que o público, “mesmo sem ter dinheiro, hoje em dia pode usufruir da textura e da fisicalidade da fotografia em muitas galerias, como as de São Paulo, cuja qualidade é muito boa”.

O público recorde da SP-Arte/Foto é um dos dados que corroboram o discurso otimista da jornalista e da curadora. Dezoito mil pessoas visitaram os 31 estandes da nona edição – um aumento de 50% em relação ao ano passado. Uma das galerias que mais atraíram visitantes – e compradores – foi a Bergamin & Gomide, que ocupou todo seu espaço com obras de Alair Gomes (1921-1992), artista que se notabilizou pelos registros de corpos masculinos, com forte tom voyeur e homoerótico.

Os trabalhos de Gomes também estão na mostra Percursos, com curadoria de Eder Chiodetto, e em cartaz até 4 de outubro na Caixa Cultural São Paulo. O recém-lançado catálogo reúne, além de séries mais famosas, como a Beach Triptychs, um conjunto inédito de imagens de atletas de surfe, futebol, canoagem e natação, no Rio, e registros que o fotógrafo fez em 1969, na Praça da República, na capital paulista, no auge do movimento hippie.

Percursos foi uma entre várias mostras dedicadas à fotografia abertas nas semanas que antecederam a feira. São Paulo recebeu exposições de Stewart Uoo (Viva la Juicy, Mendes Wood DM), Marcel Gautherot e Pierre Verger (A Viagem das Carrancas, na Pinacoteca) e João Castilho (Porcelana e Vulcão, na Zipper), e ganhou mais um espaço dedicado inteiramente à fotografia: a Leica Gallery, primeira galeria da marca alemã na América Latina.

Ainda na capital paulista, João Paulo Farkas abriu Amazônia Ocupada, no Sesc Bom Retiro. Farkas também foi um dos participantes do TALKS/Foto: Reflexões, ao lado ainda de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles, e da curadora Georgia Quintas. O fotógrafo levou ao ciclo um vídeo exibido em sua mostra, em que discute aspectos diversos de seu trabalho e da fotografia, ao lado de Edu Simões, Pedro Martinelli e Claudia Andujar, grande referência para Farkas com sua série antológica sobre os ianomâmis, dos anos 1970.

Andujar também ganhou uma mostra de peso: No Lugar do Outro apresenta o resultado de dois anos de pesquisa no arquivo da artista, e entrou em cartaz no Instituto Moreira Salles, no Rio. Com curadoria de Thyago Nogueira, reúne obras inéditas ou pouco vistas da artista e cobre o período que se estende de sua chegada em 1955, a São Paulo, até as primeiras viagens que fez à Amazônia.

De volta à SP-Arte/Foto, vale também salientar o grande volume de livros lançados na feira, entre eles Maldicidade, de Miguel Rio Branco (Cosac Naify), Travessias, de German Lorca (galeria FASS), Serra do Amolar, de Sebastião Salgado, Homini, de Lucas Lenci, e Cactoceae, de Claudia Jaguaribe, esses três pelo Estúdio Madalena. O desejo por imagens parece mesmo não ter fim.


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