No auge do inverno suíço, Beatriz Milhazes levou, em fevereiro passado, um verão enorme para sua mostra na Fondation Beyeler, em Riehen, cidadezinha nos arredores da Basileia, onde Renzo Piano construiu um museu a pedido do colecionador Ernst Beyeler. E não um museu qualquer, já que o acervo precisava estar num prédio longe do movimento da cidade, inserido na paisagem, aberto a toda luz possível e às cores das estações europeias; do branco do inverno ao verde intenso, mas breve, do verão.
Milhazes surrupiou a arquitetura translúcida do homem que também fez o Pompidou, em Paris. Na enorme grade horizontal de paredes de sentido norte-sul das galerias, a artista carioca montou seus quatro painéis, um para cada estação do ano, sendo o verão o maior de todos, vibrante na coloração, e o inverno o menor, “acanhado e estranho”, nas palavras da curadora Michiko Kono, que fala com polidez suíça sobre a mostra em entrevistas.
Talvez a paleta reduzida do prédio e seus materiais que fazem toda a construção se fundir com o entorno sejam os culpados pela explosão de cores que se deu ali, espécie de prelúdio para os meses mais quentes, quando a Basileia, no encalço da abertura da Bienal de Veneza, parece se tornar o ponto fundamental do mundo da arte, com abastados peregrinos dispostos a se abalar até o povoado para comprar arte mais e menos vibrante na Art Basel, que ainda sustenta o rótulo de maior feira de arte do mundo. É no último mês da primavera, na transição para o verão ao pé dos Alpes, que toda a trupe do jet set, incluindo celebridades ocasionais, despenca ali.
Não destoa do conjunto nem os trabalhos mais espalhafatosos da artista, mesmo certa do que faz, aliando uma estética carnavalesca a uma canibalização do modernismo brasileiro. Matisse encontra o cerebralismo da arte concreta e tudo dá samba entre plumas e paetês. Quem conhece o processo por trás das obras sabe que, na pintura, os mesmos restos de alumínio são usados várias vezes na aplicação das tintas, deixando pegadas de cor, a tal marca do improviso, por todo o quadro.
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Na esteira do sucesso comercial da arte brasileira, num ano em que a também carioca Adriana Varejão bateu o recorde de valor para a obra de um artista ainda vivo do País, é de se esperar que os brasileiros vão deixar rastros cada vez mais fortes pelas bandas da Basileia. Esquentando o mercúrio dos termômetros, Milhazes chegou a repetir em sua individual na Fondation Beyeler, uma intervenção com azulejos no chão que havia feito na temporada anterior para o braço de Miami da Art Basel, feira que começa na Basileia no meio de junho.
Fundação Brasilea
Na mesma cidade, outra fundação, a Brasilea, dá uma mão a brasileiros e outros artistas latino-americanos. Criada há nove anos, ocupa um prédio verde como a bandeira nacional, à beira do porto fluvial da cidade, no entroncamento entre França, Alemanha e Suíça. No lugar de Milhazes, o artista em destaque ali é o austríaco-brasileiro Franz Widmar, conhecido por paisagens de toada surrealistas mas não menos coloridas que as obras da artista que acaba de expor na Fondation Beyeler.
Mas já há algum tempo que brasileiros não são vistos por lá como seres coloridos, avatares do Carnaval.
FUNDAÇÃO BEYELER
http://www.fondationbeyeler.ch/
BRASILEA
http://www.brasilea.com/
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