Como manter-se no mercado, sobreviver à crise e acompanhar os avanços da tecnologia. Essas foram as principais questões que movimentaram o fórum Galerias em Debate: Mudanças e Oportunidade, que teve início nessa segunda-feira, dia 27, no Itaú Cultural, em São Paulo, e prosseguiu nesta terça-feira, dia 28.
O evento foi organizado pelo projeto Latitude (criado por parceria entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea, Abact, e a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos, Apex) e pelo gestor cultural Benjamin Seroussi. Compostas por galeristas e curadores brasileiros e de outros sete países, as mesas do primeiro dia de evento convidaram os participantes e ouvintes a olhar para as oportunidades do mercado atual. Também estimularam a troca de experiências e percepções sobre o papel dos setores público e privado no fomento e disseminação das artes visuais e na necessidade de gestões mais eficientes por parte das galerias e instituições.
Em uma mesa redonda ao lado de Ana Letícia Fialho, diretora de departamento de estratégia produtiva do Ministério da Cultura, a pesquisadora e professora Gisele Jordão apresentou a 5ª edição da Pesquisa Setorial Latitude (PSL), realizada com as 46 galerias participantes da Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea) e ressaltou as falhas de gestão das galerias no Brasil e a importância no mercado como fomentador e disseminador.
“Nos últimos anos, o investimento em novos artistas caiu de 20% para 3%, o que mostra um recurso das galerias para se manter em tempos de crise, já que disseminar novos artistas é não só mais caro como mais arriscado”, levantou Gisele que, ao final, chamou atenção para a urgência de fundamentar políticas organizacionais no processo de coletas de dados e análise de informações por parte das galerias. “Das 46 galerias apenas 29 responderam ao levantamento. Para entendermos o cenário é preciso ter dados”, afirmou.
Fialho, que foi responsável pelas últimas quatro edições da pesquisa PSL, também considerou a falta de organização entre os players do setor como um dos grandes empecilhos para que o governo estude e apoie possíveis demandas. “Queremos propor novos modelos de financiamento, acesso ao crédito e desenvolvimento setorial com investimento em capacitação e qualificação, mas é importante que exista diálogo e sinergia. Hoje há uma ausência de ideia de corpo por parte das galerias”, comentou.
Transparência e Colaboração
“No Brasil, o governo cobra 52% de importação para trazer uma obra brasileira de volta ao país”, lembrou a galerista Márcia Fortes durante uma mesa redonda mediada pelo artista Beto Shwafaty, com participação do curador Ivo Mesquita e da diretora da galeria independente 397, Thaís Riviti. Mais tarde, a galerista foi corrigida por Fialho: ela diz que a cobrança é de 48%. Para Márcia, além dos empecilhos fiscais, a pouca colaboração entre setor público e privado também dificulta articulações de novas práticas.
“Todos os agentes não só cabem no circuito como precisam atuar juntos para que o mercado de artes visuais se solidifique. O mercado não é o grande vilão. Venda e compra de obra é o que faz a roda girar, não entendo quem atua contra”, observou a diretora de uma das principais galerias do Brasil.
Ao seu lado, Thaís Riviti chamou atenção para as alternativas que espaços independentes, como a 397, encontram para sobreviver à crise e as pressões das grandes galerias e instituições. “Tem galeria que proíbe o artista de participar dos nossos leilões ou de expor suas obras em um ambiente mais informal”.
Ao dar voz a museus e instituições, Ivo Mesquita lembrou que mesmo o setor público sofre com o engessamento e a falta de diálogo sobre a arte contemporânea no país. “Para jogar junto, tem que haver transparência”, comentou Mesquita que avaliou como periférica a atuação do Brasil no cenário internacional.
Galerias online e realidade virtual
No ciclo, o diretor do Sotheby´s Insitute of Art de Los Angeles, Jonathan Neil, chamou atenção para o uso de novas tecnologias por artistas e galerias nos mercados internacionais. “Mais do que pensar no bidimensional ou no tridimensional, é importante estar aberto aos discursos e ao relacionamento com o público, ir além da mostra e da exibição e não se prender nem à tela e nem ao espaço físico”, afirmou Neil, citando a indústria da moda e da música como boas fontes de inspiração para o mercado das artes visuais.
“Eles sabem se alimentar de diferentes talentos e de plataformas interativas e acessíveis. A realidade virtual, por exemplo, pode servir como um suporte para vendas online e disseminação dos artistas e suas obras”. E, mesmo que seja fundamental ao mercado acompanhar as inovações, para Neil, os grandes inventores ainda são os próprios artistas, “inovadores primários” que criam formatos que ainda não existem, obrigando o sistema a incorporá-los. Ao fim da palestra de Neil, um conselho para galeristas que querem inovar: “Na dúvida, siga o artista!”.
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