Garaicoa, entre o conceitualismo e a literatura

Cuba virou tarja preta para o mundo capitalista desde o dia em que Fidel e seus amigos desceram da Sierra Maestra. O que pouca gente sabe é que, já naquela época, a ilha caribenha tinha um elenco de artistas de fazer inveja a qualquer circuito cultural.

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Carlos Garaicoa, um desses notáveis, se insere em um seleto grupo de cubanos que ganhou o mundo e chegou a um patamar que raros conseguem. Admirado por colecionadores internacionais, passando por diretores de museus, galerias tops, Garaicoa tem seu lugar assegurado entre os brasileiros. Acaba de ganhar um espaço no Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, e agora inaugura sua terceira individual em São Paulo, na Galeria Luisa Strina, cuja proprietária de mesmo nome é ranqueada como uma das cem personalidades das artes plásticas mais influentes do mundo.

Como a maioria dos cubanos, Garaicoa tem humor, foco, motivação e muita criatividade. Sua mostra atual, com obras recentes, traz também tapetes. Algumas peças dessa série já correram o mundo e foram expostas, entre outros locais, na 11a Bienal de Havana e no Matadero, em Madrid. Impulsionada por um conceitualismo com licença literária, a obra de Garaicoa se move em um universo em que cada fase é um ponto de partida para uma nova percepção. Ao longo de sua trajetória, deixa transparecer seu gosto por escritores, como Jorge Luis Borges, Octavio Paz, Roberto Bolaño, e por artistas plásticos, como Hélio Oiticica, Allora y Calzadilla, Cildo Meireles, Jorge Macchi, Tania Bruguera, Iran do Espírito Santo. Sua história não se fecha em si mesma. Os impulsos que o levam para fora da arte, com quebras de campos específicos, são os mesmos que o movem de um lado a outro física e conceitualmente. Seus tapetes funcionam em ambientes híbridos e dialogam com uma consciência contemporânea de espaço, delimitados por fronteiras fluidas. As frases cunhadas em tramas vigorosas são controladas pela presença do observador que, muitas vezes, hesita em pisá-las. Essa performance silenciosa se apoia no ato vivo, na palavra falada que não esgota seu significado.

Garaicoa viaja por suas memórias, conduzindo o espectador a um universo humanista, muito pessoal e que é mais bem compreendido quando o visitamos em Havana, movimentando-se entre seus pares em seus domínios onde organiza encontros informais com artistas, amigos, colecionadores em torno de uma mesa generosa sempre com a mesma graça, inteligência e simplicidade, traços marcantes de sua personalidade.


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