Gigante pela própria natureza

O IVAM - Instituto Valenciano de Arte Moderno teve uma das ideias mais criativas do panorama das artes ao dar o título Gigante pela própria natureza para uma coletiva de artistas brasileiros. O verso extraído do hino nacional brasileiro serviu de aporte para uma reflexão inteligente criada pelos curadores Wilson Lázaro e Rafael Gil.

Para Wilson Lázaro, autor do texto do catálogo, a arte brasileira está em alta, acompanhando o cenário do País internacionalmente. “Isso se reflete na exposição, que exibe um Brasil atual, de misturas, surpresas e nuances.” Ele optou por olhar a partir da própria história brasileira, mesmo que recente, “um caminho para entender e descobrir surpresas muitas das vezes bem guardadas.”
[nggallery id=14957]

A mostra, composta de 70 obras, faz conviver artistas dos anos 1930, 50 e 60 com produções de 2011, numa trama que permite contemplar os analogismos, preocupações e diferentes pensamentos dos artistas brasileiros como Adriana Varejão, Arthur Bispo do Rosário, Ernesto Neto, Ana Maria Maiolino, Ivan Serpa, Ivens Machado, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Marepe, Vik Muniz, Artur Barrio, Cildo Meireles e Rivane Neuenschwander. Em duas publicações recentes, entre os artistas considerados como os mais importantes do século XX, figuram alguns que estão presentes nesta mostra. No caso da This is Art, editada pelo inglês Stephen Farthing em 2010, estão Vik Muniz e Cildo Meirelles. E na publicação 100 Contemporany Artists, editada por Hans Werner, Tashen Hong Kong. Tem 2009, estão Marepe e Ernesto Neto.

Com esse time, Gigante pela própria natureza pretende confirmar que o Brasil é um País no qual não existe separação entre a natureza e a cultura. Vai refletir sobre a arte no Brasil, desde propostas de arte moderna, passando pelo contemporâneo e chegando à arte atual. No texto do catálogo Wilson Lázaro afirma que “há uma forte tradição conceitual na arte brasileira, assim como uma grande capacidade de absorver as mais diversas influências e remanejá-las a partir do contexto sociocultural.

A exposição foi desenhada tomando como eixo o coração, por sua analogia com a topografia do Brasil, por sua cor vermelha que expressa intensidade e pelo sentido gerador da vida, pressentimento. Enfim, como ideia do impulso da criação dos artistas. Agregada à força da arte, a coletiva ainda ressalta as mudanças produzidas no gigante Brasil atual que, apesar disso, na opinião dos espanhóis, ainda hoje é um País desconhecido e cheio de surpresas.

Os curadores também agregaram o ritmo como fio condutor desta coletiva. Lázaro acredita que o ritmo é o movimento de criação que diferencia o Brasil de outros países. Por isso, o próprio nome da exposição parte de um conceito ao tomar uma frase do hino nacional para fazer parte dela. O curador vê o Brasil como um País em que a natureza tem seu próprio ritmo, dependendo da geografia onde se estabeleça.” Uma natureza invasiva. Uma natureza que impera na cidade. Uma natureza antropofágica”, define Lázaro.

Consuelo Císcar, idealizadora da mostra Gigante pela própria natureza, em depoimento à Arte!Brasileiros:
“Começei a me interessar por arte porque a família e seu entorno te predispõem a experimentar com os sentidos. Conservo em minha memória formas, cores e pinturas que existiam em minha casa. Meu pai era colecionador de arte e teve muita relação com artistas, pintores e também com a música, da qual ele era um aficionado. Nasci em um meio muito ligado com as artes. Assim, prossegui convivendo com artistas como: Equipe Crônica, Miquel Navarro, Fernando Canovas, Sanleón, Ramón de Soto, Natividad Navalon, Uiso Alemany, Carmen Calvo, Iturralde, José Antonio Orts, Anzo, Equipe Limite, Joan Cardells, Vicente Colom, Jose Morea, Angeles Marco, Vicente Peris, Genovés. Todos eles expuseram em mostras individuais ou coletivas no Brasil. Por isso os cito, embora me relacione com muitos outros artistas.

Minha primeira experiência profissional com a arte foi como galerista, nos anos 1960-70. Através dessa relação profissional, conheci outras maneiras de entender a arte. Relacionei-me com os artistas do grupo Dau al Se, fiz uma exposição de Joan Ponç, visitei Dali… Foi um período muito rico em experiências. Não somente por tratar com artistas que hoje são figuras consagradas, como também por ter de lutar contra a censura franquista. Naquele momento a ruptura estética era também um manifesto pela liberdade e isso eu fiz até que a galeria fosse fechada.

Como colecionadora, também comecei muito jovem, principalmente pela amizade com artistas de quem fui cúmplice em seus processos criativos. Não sou uma colecionadora unidirecional. Compro e desfruto da arte contemporânea. Tenho predileções e sou fiel a alguns artistas; porém, também me deixo levar pela atração à obra da qual não conheço o autor. Não poderia escolher entre uma vintena de artistas dos quais possuo obras, porém lhe digo que são aqueles com os quais, além da arte, temos a nos unir vivências, forma de ver o mundo e muitos bons momentos.

Sempre trabalhei e produzi muitas exposições. Sem dúvida, ninguém é perfeito, porém não correr riscos leva à paralisia. Não se pode viver na defensiva, mas, sim, fazer da aventura da arte uma forma de descobrimento e de superação. Ao contrário do que muita gente pensa, as atividades do museu têm de contar com empresas financiadoras.

Tenho realizado curadorias e assumir o comissariado geral da III Bienal do Fim do Mundo, em Ushuaia, Argentina, foi não somente um grande desafio como uma enorme honra. Esta edição da bienal foi concebida sob o trinômio homem, natureza e sociedade, e minha proposta é que seja interdisciplinar e com algumas novas produções em torno dos espaços.

Considero que toda bienal deve deixar uma marca, não volatizar-se. Por isso planejei a criação de um Museu dos Museus, que não terá coleção própria, mas receberá exposições das coleções de outros museus – um relato novo com peças que se encontram pela primeira vez. E como planejamos que tenha repercussão em seu entorno, juntamente com uma proposta expositiva atrativa e nova, colocaremos em marcha um projeto didático e pedagógico participativo. Teremos artistas dos cinco continentes. Será um caleidoscópio de ideias, porém sempre ideias que signifiquem um posicionamento ante a vida. Nosso desafio é que seja atrativa para as pessoas de Ushuaia, assim como para os visitantes e os turistas.”


Comentários

Uma resposta para “Gigante pela própria natureza”

  1. adoro todos os assuntos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.