Gostou? Pendura na parede!

Apesar dos seus 171 anos de vida, completados no dia 19 de agosto, a fotografia parece ainda não ter se livrado da bizantina questão sobre se é arte ou se não é arte. Recorrente, mesmo que cada vez mais esmaecida – como velho instantâneo precariamente fixado no papel fotográfico – a discussão ainda existe. Só que, em meio a ela, como persistente e inexorável caravana, as obras fotográficas ocupam cada vez mais espaços nos acervos de galerias e museus no mundo todo.

Assim como em seus primórdios, quando os franceses Joseph Niépce, com uma placa de estanho, e, logo depois, Louis-Jacques Daguerre, com uma placa de cobre, devidamente embebidas em química sensível à luz, inauguraram uma técnica sedutora que substituiu os pincéis e as tintas na elaboração de retratos, hoje o produto de moderna tecnologia de registro fotográfico divide espaços outrora reservados exclusivamente à produção artística pictórica tradicional. Ou seja, cada vez mais colecionadores adquirem e exibem fotografias em suas paredes.
[nggallery id=15128]

E, é bom que se diga, até porque esta revista se chama ARTE!Brasileiros, que foi aqui no Brasil – mesmo que vinda da boca de um francês, Hercule Florence – que a palavra photographie foi pela primeira vez pronunciada. Florence, pintor que acompanhou a expedição do barão Georg Langsdorff pelo interior do Brasil, em 1825, e registrou em aquarelas o que viu, se estabeleceu por aqui como fazendeiro e fez pesquisas sobre a fotografia bem antes de Daguerre ser ungido como o inventor do processo, da tecnologia, da arte, como queiram, pela Academia de Belas-Artes e Ciências, em Paris, em 19 de agosto de 1839.

O pioneirismo de Hercule Florence foi revelado ao mundo em Rochester, nos Estados Unidos, pela divulgação das pesquisas do jornalista, historiador, arquiteto e fotógrafo paulista Boris Kossoy. E, a propósito, trabalhos fotográficos de Kossoy fazem parte dos acervos do MoMA, em Nova York, do Smithsonian Institution, em Washington, da Bibliothèque Nationale de France, do MASP e da Pinacoteca, em São Paulo.

Fotografia é arte? Fotografia não é arte? E fotojornalismo? É arte ou é tão somente o registro da realidade? Pouco Importa. Importa sim, no caso do fotojornalismo, como é produzido esse tal registro da realidade. E é isso que justifica que exemplos de fotojornalismo estejam, cada vez em maior quantidade e qualidade, em coleções, em galerias e em museus. E é isso que possibilita que ele possa ser pendurado na parede da sua casa. Basta que seja de boa qualidade. Basta que você goste daquilo que vê. Como, por exemplo, trabalhos de W. Eugene Smith, Sebastião Salgado, Robert Capa, Walter Firmo e Pedro Martinelli. Só para citar alguns.

Essa definição de fotojornalismo como registro da realidade parece simples, mas não é. E não é também o domínio de técnicas cada vez mais sofisticadas. Nem é um simples manipular e apertar botões após digerir manuais técnicos. Também é isso, mas não é só isso. Fotojornalismo é o fruto da observação e da análise de um evento ou de um conjunto de eventos para, então, se produzir um registro dessa realidade. De uma interpretação dessa realidade. Até da descoberta do que há de, eventualmente, fantástico nessa realidade. De qualquer maneira, por mais elaborado, por mais sofisticado que seja, será sempre um registro da realidade.

É a capacidade de entendimento e leitura de um evento a ponto de permitir antecipar os movimentos de seus personagens e, assim, se posicionar para produzir registros de qualidade.

E principalmente produzir registros que obedeçam a uma estética subjetiva e autoral.
Seria isso também arte?


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.