Em 1995, o antropólogo francês Marc Augé desenvolveu o conceito de “não lugar”, para se referir a lugares de passagem aos quais as pessoas não se apegavam, simplesmente passavam por eles. Como exemplo, entre muitos, citou os hotéis como esses “não lugares”. Mas não é essa a impressão que temos quando folheamos o livro Brasília Palace, organizado por Luis Esnal, que reúne fotografias de Evandro Teixeira, Marcel Gautherot, Mario Fontanelle, Peter Scheier, Thomaz Farkas e um ensaio de Ruy Teixeira.
Construído em 1958 por Oscar Niemeyer a pedido de Juscelino Kubitschek, antes mesmo do surgimento da capital federal, o hotel não pode ser considerado um não lugar, mas o lugar, por onde passou parte da nossa história. Por seus corredores, salões e quartos passaram políticos, atores, operários, pessoas que ajudaram a construir o que mais tarde se tornaria Brasília: “O hotel Brasilia Palace foi também instrumento da propaganda oficial para conseguir que a nova capital fosse aceita. Comitivas inteiras de personalidades históricas, realeza, revolucionários, intelectuais, chefes de Estado, políticos, artistas, críticos, arquitetos e jornalistas que fizeram o século XX foram hospedados lá para mostrar que Brasília era possível”, escreve o organizador do livro.
É um livro sobre o Modernismo, sobre a arquitetura do hotel, acima de tudo sobre as linhas de Oscar Niemeyer, mas não é só isso. É também sobre os fotógrafos do final dos anos 1950 que o retrataram e retrataram o entorno de uma cidade que em breve desbravaria o Centro-Oeste. Lá do nada, despontava o hotel. Foi lá que Jânio Quadros recebeu Che Guevara.Também foi lá que Athos Bulcão criou seu painel e em frente dele aconteceu o primeiro desfile de Miss Distrito Federal, em 1959. Nas suas paredes a história está impregnada. Não é um livro sobre um hotel, mas um livro sobre um lugar que ajudou a construir a nossa história.
Deixe um comentário