A conversa da Arte!Brasileiros com o diretor da Fundação Cartier de Paris, Hervé Chandès, foi na “sucursal” da instituição em Miami e começou com uma pergunta inevitável: Quando e por que uma casa luxuosa como a Cartier decidiu ligar-se à arte contemporânea? “Começamos em 1984, com o objetivo de promover a arte de maneira muito livre, sem as amarras dos dogmas vigentes em galerias e museus e, sobretudo, com o objetivo de sermos ecléticos, sem seguir uma única vertente de arte.” Se a ideia era essa, a Fundação acertou o alvo. Hervé Chandès é um presidente que se multiplica em gestor, curador, conselheiro e tudo o mais. Resumindo, ele é quem manda e desmanda tanto na Fundação Cartier de Paris como na de Miami, conforme ele confessou. Perante tal ecletismo, seguimos com a pergunta. Mas não há um conselho curatorial para ajudar a decidir a programação em Paris e aqui em Miami? Seu olhar se torna mais profundo e ele responde enfático: “Não. Sou eu quem decide tudo, aqui e lá na França. Pode parecer estranho, mas é muito mais fácil e ágil que ter muita gente opinando, o que atrasa as decisões”.
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A vontade de criar a Fundação Cartier que já fez eventos memoráveis, como Le Monde des Fausses (O Mundo dos Falsos) – que juntou tudo o que é falsificado hoje em dia, desde óculos, próteses, alimentos –, é do então presidente Alain Dominique Perrin, quando uniu o mundo do luxo ao mundo das artes. Naquela época, a sede era no castelo Jouy-en-Josas, uma espécie de mansão com várias amplas salas e um jardim espetacular, que abriu suas portas com uma exposição dedicada à Ferrari, cuja máquina foi reinterpretada por artistas dos anos 1960. Hoje, sediada na capital francesa, está aberta para exposições mais radicais, como Mathématiques que promove a dialética entre cinema, artes plásticas, vídeo, música e, claro, matemática. Ao andar de sala em sala, o espectador percebe quanto os números estão presentes em sua vida. Basta pensar em nosso cotidiano com contas a pagar, horários, dias do ano, número do assento no voo, datas de aniversários, etc.
Indagamos como surgiu a ideia genial de juntar números a takes, pixels, notas musicais e tudo o mais que encontramos em Mathématiques. “Eu tive essa ideia porque sempre fui muito ligado à matemática e, conversando com alguns cientistas da área com quem realizei várias reuniões, decidimos colocar em pé essa exposição, que está tendo um sucesso incrível de público e mídia”. Não resistimos, e quisemos saber até que ponto essa mostra poderia vir para o Brasil. Com um sorriso de quem bem conhece o País, ele responde. “É só conversar. Gosto muito do Brasil, vou ao Rio de Janeiro onde tenho amigos como Gilberto Chateaubriand, que já me hospedou em sua fazenda no interior de São Paulo e me levou para Nova Viçosa, Itacaré, Trancoso, Costa do Sauípe e outras praias maravilhosas. Hervé Chandès conhece, relativamente, a arte brasileira. Não é por acaso que convidou Beatriz Milhazes para fazer uma feérica instalação na entrada da Cartier, em Miami. Aquarius é a obra que ocupa todo o hall da Fundação e foi inaugurada junto com a Miami Art Basel. Foi feita sob encomenda da Cartier e confeccionada com a colaboração dos artesãos da casa. Com mais de 2 m de altura, a peça exibe pérolas gigantes, pedras semipreciosas, cristais translúcidos e ouro. Não há como não pensá-la dentro de um imenso porta-joia. Miami gosta de Beatriz Milhazes e Hervé Chandès também. “Oferecemos a ela, junto com a revista W, um jantar no qual estiveram Naomi Campbell, Marina Abramovic, Bebel Gilberto e muito mais gente”, lembra ele. Sem dúvida, Milhazes continua uma das queridinhas de Miami, e colecionadores endinheirados enfeitam suas paredes com obras banhadas de um colorido radiante, tudo muito brasileiro.
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