High-tech/Low-tech: formas de produção que divertem

A paisagem branca encobre uma planície per­dida em pleno Ártico – ao nos aproximarmos, surge uma cabana coberta por uma grossa camada de neve. Olhando pelas frestas, vê-se uma fábrica de gelo primitiva. A partir daí, o espectador coça a cabeça e pensa: “Fábrica de gelo em pleno Ártico?”. Invariavelmente ele cai na risada. Antes de você fazer o mesmo, pense nos iglus que são construídos com blocos de gelo. As imagens são inusitadas, a roda de madeira, uma espécie de moenda, é movida por mulheres enroladas em peles de animais. O vídeo é do artista norte-americano Chris Larson, que montou um trabalho criativo e humano. Junto a essa descoberta no ponto mais setentrional do planeta, há vídeos hilários com engenhocas, como o carro do canadense Michel de Broin, que tem como propulsão o pedalar dos próprios passageiros no melhor estilo dos Flintstones, e que já percorreu várias cidades com os ocupantes dianteiros e traseiros pedalando sem parar, incluindo o artista.

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Esse e tantos outros fazem parte da exposição High-Tech/Low-Tech: Formas de Produção, com a participação de 20 artistas e coletivos brasileiros e estrangeiros vindos de vários países e que colocam em xeque a tecnologia perante o mundo contemporâneo. Tudo isso está em cartaz no Instituto Oi Futuro, no Flamengo, sob a batuta de Alfons Hug, o diretor do Goethe Institut do Rio de Janeiro e curador de várias bienais.

O time é formado por um elenco de artistas ecléticos de tendências e gerações diferentes, como os brasileiros Alexandre Vogler, Mariana Manhães, Adriana Barreto, Kátia Maciel, André Parente e Vicente de Mello; além dos estrangeiros Ricarda Roggan, Harun Farocki e Mark Formanek, da Alemanha; Ali Kazma, da Turquia; Laurent Gutiérrez, Valérie Portefaix, de Hong Kong; Zhou Tao, da China; Michel de Broin, do Canadá, Chris Larson, dos Estados Unidos; Desire Machine Collective, da Índia; Chen Chieh-Jen, de Taiwan; Libia Posada, da Colômbia; Dinh Q. Lê, do Vietnã; George Osodi, Nigéria; Roman Signer, da Suíça; e Tirzo Martha, de Curaçao. Sem dúvida, trata-se da melhor mostra já curada pelo alemão, sediado no Brasil há décadas.

Entre os brasileiros destacam-se Adriana Barreto com o vídeo O Menor Espaço para o Corpo, em que uma bailarina assinala no chão os pontos onde vai pisar, criando uma trilha na qual demarca o menor espaço que um corpo pode ocupar no solo. Um dos bons trabalhos é do pernambucano Vicente de Mello, para quem Hug dedicou a fachada do prédio. Seu trabalho abraçou o edifício e foi criado especialmente para a exposição. Trata-se de uma imagem do teto do Teatro Santa Isabel, de Recife, impressa em lona. Com o título Atrack Fractal, faz parte da série Quantas Asas têm um Pixel?. A imagem invertida e rebatida tem um efeito espacial anacrônico, se levarmos em conta a alta tecnologia em 3D, HD e outros. Mas o efeito final é high-tech e pode ser a síntese e paradigma do conceito tecnológico pós-moderno.

Entre críticas e pesadelos, um dos pontos altos da mostra é o trabalho do vietnamita Dinh Q. Lê, que compõe uma ode e, ao mesmo tempo, uma revanche ao pesadelo vivido por todos seus conterrâneos e por todo o mundo, quando na década de 1960, em plena Guerra do Vietnã os americanos faziam chover bombas Napalm sobre a população. Na instigante instalação, Dinh Q. Lê provoca uma chuva de helicópteros que despencam sobre o mar, filmados nos mais diferentes ângulos e quedas. O grupo indiano Desire Machine Collective mostra o cenário de uma fábrica têxtil na Índia no final do expediente, enquanto, sob o mesmo tema, o chinês de Taiwan, Chen Chieh-Jen, mostra operárias exaustas em uma fábrica têxtil desativada.

Para Alfons Hug, que já levou alguns artistas desse elenco para as bienais do Mercosul, São Paulo, Fim do Mundo, na Patagônia e na de Curitiba, a arte contemporânea ocupa uma posição ambígua perante a máquina. ”Enquanto a máquina foi projetada para a reprodutibilidade mecânica e sistemática de processos, a arte destaca a unicidade e o gesto artesanal”.

High-Tech/Low-Tech coloca em confronto o passado e o presente e põe foco sobre a questão do futuro do planeta, abordado por artistas de países tão diferentes quanto os seus trabalhos. Com muito humor e crítica, nos dá a dimensão de como poderá ser o nosso futuro. Indo ao Rio de Janeiro, não deixe de conferir!

Instituto Oi Flamengo – Rio de Janeiro
Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo
Até 1 de abril. De terça a domingo, das 11h às 20h
Informações: 21 3131-3060

 


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