A imagem como território de luta

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“Beirut Exploded Views”, Akram Zaatari. Foto: Divulgação

Amanhã Vai Ficar Tudo Bem é a primeira exposição individual, no Brasil, de Akram Zaatari, um dos artistas libaneses mais importantes em atividade. Com curadoria de Solange Farkas e Gabriel Bogossian, a exposição marca exatos 20 anos de colaboração entre o artista e a Associação Cultural Videobrasil. Zaatari participou anteriormente de oito edições do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil organizado pela instituição em parceria com o Sesc São Paulo. Ao longo desse tempo, a obra de Zaatari parece ter sido uma espécie de vértice nos projetos curatoriais do festival. Na atual mostra realizada no Galpão VB – espaço da associação – ele exibe obras, vídeos e instalações, produzidas entre os anos 2000 e 2014, apresentando assim um recorte de mais de uma década de trabalho.

A exposição dá continuidade à programação recente da associação, que tem realizado projetos que trazem à luz movimentos sociais e culturais que passaram por processos de “apagamento” em contextos de sistemas opressores, autoritários e normativos. Esse é o caso, por exemplo, da 11ª edição do Caderno Sesc_Videobrasil, organizada pelo pesquisador peruano Miguel Lopez, que teve como título alianças de corpos vulneráveis: feminismos, ativismo bicha e cultura visual. Somente em 2016, também houve o projeto Queer Archives Institute do artista polonês Karol Radziszewski. Da mesma forma que a mostra de Zaatari, esses projetos recentes expressam um interesse recorrente da instituição em repensar noções geopolíticas articulando práticas artísticas que estão fora do eixo europeu e norte-americano.

Com uma obra de extrema importância, Zaatari se conecta de maneira bastante clara com as intenções do projeto curatorial da Videobrasil. Sua pesquisa se debruça sobre o ainda persistente estado de invisibilidade das questões de gênero e sexualidade na construção histórica da identidade libanesa, parte de um complexo sistema político, religioso e sociocultural. Tanto em seus trabalhos fotográficos quanto videográficos, o artista mobiliza a memória, ampliando a prática documental, mas também complexificando e resignificando o arquivo como dispositivo da contemporaneidade. Dessa forma, Zaatari não só faz emergir uma “história queer” para a realidade micropolítica de seu próprio país, como também de forma macropolítica para o mundo. Afinal, o Oriente Médio foi sempre considerado uma grande zona desconhecida e colocado de maneira periférica e marginal diante da perspectiva ocidental de mundo.

No livro No Sabe/No Contesta: Prácticas Fotográficas Contemporáneas desde América Latina, organizado pelo crítico de arte Rodrigo Alonso, temos como proposta de abordagem uma visão conceitual da “imagem como território de luta”, ou seja, da imagem como resistência e como instrumento público de visibilidade, que possibilita a existência de outras performatividades. No livro, Alonso lança mão desse conceito para a análise de uma problemática latino-americana, mas que a partir de suas especificidades, possui conexões diretas com a realidade libanesa vivida por Zaatari e trabalhada em sua prática artística. Afinal, trata-se de dois territórios inseridos em uma “falsa globalização”. Essa crítica é também abordada no livro Queer Geographies, organizado pelos editores Lasse Lau, Mirene Arsanios, Felipe Zúñiga-González e Mathias Kryger, que irão promover uma relação entre as cidades de Beirute, Tijuana e Copenhagen, aproximando essas localidades a partir de suas diferenças e semelhanças. Além dessas possibilidades de leitura, a obra de Akram Zaatari também se coloca como urgente no momento atual em que o mundo parece atravessar uma onda extremamente conservadora. O nome da exposição parece jogar com essa situação, a partir de uma aparente esperança utópica, mas revelando um tanto de melancolia diante do futuro.

Serviço – Akram Zaatari – Amanhã Vai Ficar Tudo Bem
Até 3 de dezembro
Galpão VB – São Paulo
Av. Imperatriz Leopoldina, 1.150
11 3645-0516


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