Apesar de todas as críticas sofridas nos últimos anos por suas escolhas, o World Press Photo ainda é um dos mais importantes prêmios de fotografia do mundo. Neste ano, um brasileiro se destaca em duas categorias. Mauricio Lima vem construindo – ao longo de 17 anos de forma quase silenciosa – um legado imagético que nos últimos tempos tem se tornado cada vez mais poético, ao tratar de assuntos tão doloridos como conflitos e guerras. Talvez venha daí seu silêncio. O que seus olhos viram, as palavras não exprimem. E seus olhos se fixam e tratam sujeitos fotografados com dignidade com uma estética monocromática, que não agride, mas nos chama a refletir sobre o que ele nos aponta.
Na imagem que ganhou o primeiro lugar na categoria “General News”, foto única, publicada pelo New York Times em agosto de 2015, vemos um médico que atende um menino de 16 anos, combatente do ISIS, com o corpo quase totalmente queimado. Neste caso a legenda é mais dura do que a construção imagética de Mauricio. Não conseguimos desviar o olhar da imagem, ou como diria a pesquisadora Susie Linfield, da luz cruel que ilumina a cena.
Já na outra foto, premiada com o segundo lugar na categoria “Daily Life”, foto única, vemos crianças da tribo Mundurusku saltando no Rio Tapajós, no Pará. Ela foi publicada no Al Jazeera América em fevereiro de 2015. Aparentemente uma foto clichê. Já vimos muitas vezes crianças saltando na água, mas um detalhe faz toda a diferença. Num primeiro plano uma criança observa as outras.
Esteticamente as duas imagens se assemelham (embora com assuntos diversos), mas nas duas crianças são protagonistas, talvez vítimas, talvez esperança. Ainda parafraseando Susie Linfield, “as fotografias podem nos aproximar da experiência do sofrimento como nenhuma outra forma de arte ou jornalismo consegue fazer”. Maurício Lima faz. Suas imagens são pungentes.
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