A 32ª edição da mostra bienal Panorama da Arte Brasileira, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), reúne 38 artistas sob o conceito do deslocamento, como bem sugere o título Itinerários, itinerâncias. Na opinião de Cauê Alves, curador da exposição em parceria com Cristiana Tejo, “há hoje no campo da arte muitos deslocamentos devido à itinerância de exposições, residências e viagens que os artistas fazem cada vez mais no Brasil e no mundo”.
A experiência de estar fora do lugar, ou de permanecer em trânsito e fazer do estranhamento e da impermanência as matérias-primas de investigação estética são as marcas registradas das obras, que perfazem múltiplos roteiros de viagem, subjetiva ou concreta, no sentido geográfico.
O confronto e o contraste entre tantos caminhos, pelo mundo e pelos ateliês, realizado por artistas de várias regiões do País e alguns estrangeiros convidados, resultou num mosaico de tendências que faz pensar sobre a fragilidade da fronteira de espaço e tempo, apontando para a dura realidade do desenraizamento.
Os sinais de decomposição das referências, ou da diluição de certezas e limites, estão nítidos em instalações como Todo o Vazio, de Alberto Bitar, de Belém, que expõe imagens de interiores em prédios e hotéis, sem a figura humana, onde a percepção da passagem do tempo se dá pelo movimento das nuvens, além das janelas, e pela mudança da luz que invade o ambiente. Assim também ocorre nas placas de trânsito sem sinais, portanto esvaziadas de suas funções, de Gaio Matos, de Salvador.
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Numa outra perspectiva, a narrativa e os rabiscos de Ducha (em Relíquias do tempo), do Rio de Janeiro, sobre os mapas que registram seu percurso pela Estrada Real, em Minas Gerais, reelabora a noção de movimento por meio de um diário poético que registra a viagem em plano abstrato, no diálogo com o ficcional.
“Tratamos os itinerários também entre as áreas, estilos e técnicas, além do deslocamento dos próprios artistas. Na exposição há vários exemplos de artistas que transitam por distintos meios”, explica Alves. O resultado desse foco na mobilidade, como ocorre na instalação Translados, da espanhola Sara Ramo, recria a ideia de nomadismo cotidiano nos moldes de uma angústia por arranjar os objetos próprios e os de viagem, aquilo que está em nossas raízes e o que se agrega pelo caminho.
O diálogo de materiais, cenários e leituras de cada artista sobre os sentidos da passagem elaborada ao longo da exposição provoca certa vertigem, como se não fosse mais possível recuperar a origem, o ponto de partida, mas como se todo o processo estivesse determinado pelo devir, ou pelo ritual de travessia. Mesmo quando o caminho nos leva à infância, como no trenzinho elétrico da instalação Partitura, de Cadu (São Paulo), ou nos Sapatos sonoros de Romano, do Rio de Janeiro, que nos convidam para passeios lúdicos sem sairmos do lugar.
Houve também por parte da curadoria uma preocupação com o aspecto pedagógico envolvendo o Panorama da Arte Brasileira, que Alves resume como “ênfase ao trânsito entre arte e educação”. Artistas foram convidados para atividades no setor educativo do MAM, como no Áudio Guia de Bruno Faria, ou na proposta de Jorge Menna Barreto, que montou um café educativo em que o público pode descansar, consultando informações sobre os artistas, e refletir sobre a própria experiência da mostra.
Para Cauê Alves, o Panorama da Arte Brasileira já “faz parte do calendário de mostras de São Paulo e do Brasil”.
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