Um dos maiores colecionadores de arte contemporânea do País, João Carlos Figueiredo de Ferraz acaba de ser eleito presidente da Fundação Bienal. O empresário, que participou do Primeiro Seminário Internacional ARTE!Brasileiros, herda uma instituição que, mesmo diante da crise econômica e política, está com as contas em dia.
Programada para 2018, a 33ª edição da Bienal será realizada no ano das eleições presidenciais. Em entrevista à ARTE!Brasileiros, Ferraz afirma: “Estamos no meio do furação. Falar de política nesse contexto é inevitável”. Ele reforça que toda a Bienal é política por natureza, mas que a “intenção é discutir a partir da estética e da poética, com debate de alto nível que não seja panfletário ou partidário”.
Ao falar sobre os próximos anos, ele conta que, no momento, a Bienal está equilibrada financeiramente: “Nestes últimos quatro anos, com a administração do Luís Terepins, a Bienal teve uma gestão espetacular, tanto na parte administrativa quanto financeira. Temos um grupo de apoiadores que estão muito fortes e coesos conosco, evidente que eles próprios também dependem de uma reação da economia para poderem ajudar. Acredito que a instituição está numa posição confortável para podermos realizar a próxima Bienal com tranquilidade”, afirma.
Ferraz também comenta que ainda não há um curador definido para a 33ª edição, mas que já cogita alguns nomes. Indagado se a crítica Aracy Amaral poderia ser uma das cotadas, ele descartou a opção: “Queremos primeiro elaborar um projeto para a próxima Bienal e, a partir disso, conversar com um curador que tenha afinidade com esse projeto. A Aracy Amaral é uma pessoa por quem tenho grande respeito. Eu adoraria poder contar com a sua colaboração, mas não sei se é o caso dela ser a curadora chefe”.
Ainda sobre o mesmo tema, Ferraz também afirma que é “irrelevante se o curador será brasileiro ou não. O mais importante neste caso é o perfil da pessoa e não a sua nacionalidade”. E sustenta que, assim como nas edições passadas, haverá uma grande participação brasileira e também de artistas latino-americanos.
Além da faceta política, a mostra deste ano destacou-se pela presença de trabalhos comissionados, ou seja, feitos especialmente para esta edição. Ferraz ressalta que essa “foi uma escolha específica da curadoria deste ano. Isso não será necessariamente assim na próxima mostra, depende muito das escolhas do curador, vamos ver”. Porém, ele reforça o caráter singular do evento: “A Bienal é um lugar de experimentação, por tratar de arte contemporânea. E arte contemporânea é justamente aquilo que acontece junto conosco, estamos respirando esse ambiente. Esse é um dos motivos que faz com ela seja tão incompreendida, porque não há esse distanciamento para que possamos fazer uma avaliação correta do que está sendo exposto”, afirma.
Sobre a repercussão do evento, ele comenta que tem “muito respeito pelos críticos que não gostaram da Bienal. São intelectuais da maior importância no cenário cultural brasileiro. Mas são opiniões, ainda não conseguimos avaliar o que o futuro vai nos dizer desta exposição”. Ele ainda afirma que as controvérsias fazem parte do histórico do evento: “Quando a gente olha para o passado, vemos que bienais que hoje são muito elogiadas, como a da Antropofagia do Paulo Herkenhoff, foram muito criticadas em sua época. No seu momento, as Bienais são sempre polêmicas”.
Refletindo sobre os objetivos de sua gestão, Ferraz comenta que o maior desafio é “fazer uma mostra que atraia o público e ao mesmo tempo tenha conteúdo, diferenciando-se dessas mostras pirotécnicas, que você vai embora e esquece tudo que viu. Neste ano, a Bienal teve um público de 900 mil pessoas, e cerca de 10% disso foi do educativo, o resto foi espontâneo, então você vê que a Bienal chamou atenção e despertou interesse. E essa é a meta quando a gente organiza uma mostra dessas: atrair o público e educar. A arte tem uma função educativa muito importante que é a de fazer as pessoas pensarem diferente”.
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