Keith Haring, na década de 1980, respondeu com arte às injustiças políticas e sociais

Keith Haring em seu local preferido, os vagões do metrô de Nova York. "Slide Light Boxes com Fotos", 1982-1984 - Foto: Reprodução
Keith Haring em seu local preferido, os vagões do metrô de Nova York. “Slide Light Boxes com Fotos”, 1982-1984 – Foto: Reprodução

Desde que descobriu que era soropositivo, Keith Haring acelerou seu ritmo de vida. Precisava atravessar fronteiras, romper barreiras do preconceito, especialmente o da homofobia: ainda tinha muito a fazer quando morreu, aos 32 anos, em 1990.

Muitos artistas desaparecem cedo: Haring deixou uma extensa obra que o Young Museum de São Francisco expôs até o final de fevereiro. Todas as salas foram tomadas pelos trabalhos de um dos mais populares artistas pop americanos, ativista social que despontou na década de 1980.

A retrospectiva A Linha Política, que teve público fora dos padrões nos dois meses de exibição, avalia a dimensão das preocupações culturais, ecológicas, sociais e políticas de um garoto que muito cedo se revoltou contra as injustiças sociais. Na mesma voltagem de seus trabalhos, a vida de Haring é filtrada nas 130 obras realizadas com várias mídias, incluindo pinturas de grande dimensão em telas e lonas, desenhos, grafites no metrô e esculturas. Grande parte das obras é proveniente da Keith Haring Foundation é a resposta do artista às mazelas da sociedade capitalista. Antes mesmo de seus desenhos clandestinos no metrô se tornarem constantes, Haring já exercitava um estilo de guerrilha com colagens nas paredes dos vagões.

Reconhecido na cultura de rua de Nova York da década de 1980, seus desenhos começaram a causar tititi no nas estações de metrô e logo chegaram aos ouvidos da crítica. Da rua para o mundinho fechado dos socialites nova-iorquinos, consumidores de arte, foi um pulo. Tornou-se amigo de celebridades como Andy Warhol, Grace Jones, Jean-Michel Basquiat e Madonna, para quem projetou um casaco para a performance de sua canção Like a Virgin, em Solid Gold, um programa de dança da TV. Essa aparição ajudou a alavancar comercialmente a sua obra.

A exposição de Keith Haring reuniu o melhor de sua obra, como a pintura ao fundo de 1983, coleção Glenstone, acrílico sobre encerado, 396,2 cm x 366,2 cm - Foto: Leonor Amarante
A exposição de Keith Haring reuniu o melhor de sua obra, como a pintura ao fundo de 1983, coleção Glenstone, acrílico sobre encerado, 396,2 cm x 366,2 cm – Foto: Leonor Amarante

Haring não queria sua arte decorando somente a casa de milionários, por isso abriu duas lojas Pop Shop no Soho. Os objetos comercializados estampavam tudo o que ele fazia nas estações de metrô. A ideia era romper barreiras entre ricos e pobres na sociedade de consumo e dar a oportunidade a todos de adquirirem suas peças, dizia ele quando questionado sobre o mercantilismo de seus projetos populares. “Meu trabalho estava se tornando muito caro e poucos podiam ter acesso a ela. Na Pop Shop tudo é acessível, até mesmo para os garotos do Bronx.”

Sua primeira exposição foi em 1982 e apenas um ano depois já estava nas bienais de Whitney, em Nova York e na de São Paulo, onde pintou um painel na Avenida Sumaré, que já desapareceu. Em outras ocasiões, esteve em Ilhéus (BA), na casa do amigo e também artista Kenny Scharf, (que também participou da Bienal de São Paulo) onde pintou murais e produziu telas e esculturas inspiradas na cultura brasileira.

Uma das salas mais significativas da mostra, onde o público se concentrava era a das pinturas carregadas de uma energia sexual crua, que misturava raiva e repulsa representada pela doença (AIDS), e pela morte. Os monstros grotescos pintados em escala gigante eram penetrados através dos vários orifícios espalhados pelo corpo, uma alegoria do potencial maléfico e irradiador da doença que o retirou de cena muito jovem.

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"Estátua da Liberdade", 1982, coleção Rubell Family, tinta acrílica e fluorescente sobre fiberglass com luz, 241,3 x 88,9 x 35,6. Ao fundo, sem título, 1981, coleção Carnegie Miseum of Art, Pensilvânia, tinta vinil sobre encerado de vinil, 365,8 cm x 365,8 cm - Foto: Leonor Amarante
“Estátua da Liberdade”, 1982, coleção Rubell Family, tinta acrílica e fluorescente sobre fiberglass com luz, 241,3 x 88,9 x 35,6. Ao fundo, sem título, 1981, coleção Carnegie Miseum of Art, Pensilvânia, tinta vinil sobre encerado de vinil, 365,8 cm x 365,8 cm – Foto: Leonor Amarante


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