Borrar as separações entre arte e design. Foi com esse intuito que Etel Carmona, fundadora da coleção de design ETEL, convidou o artista carioca Carlos Vergara para uma parceria. Os dois idealizaram uma série de cinco móveis inéditos. As obras podem ser vistas e adquiridas na SP-Arte, feira em cartaz até domingo no Pavilhão da Bienal.
A inspiração dos móveis partiu das viagens que o artista realizou para lugares míticos e religiosos, como Santiago de Compostela, na Espanha, Pompeia, na Itália, e as ruínas dos setes povos das Missões, no Estado do Rio Grande do Sul. Nesses percursos, Vergara carregou consigo alguns lenços, sob os quais, posteriormente, aplicou a técnica de monotipia. São esses lenços, já com intervenções, além de objetos que Vergara coletou nas viagens, que compõem os móveis.
Há, assim, biombos que proporcionam interatividade com os objetos coletados por Vergara e caixas que podem se transformar em mesas ou até serem penduradas na parede. “Estou muito feliz porque o design aqui não está sendo a moldura para a arte, nós realmente criamos juntos”, afirma Carmona.
Outro destaque são as reedições de peças da icônica arquiteta Lina Bo Bardi, cuja obra foi revalorizada nos últimos anos. São apresentadas seis peças: Carrinho de Chá, Mesa Tríplice, Mancebos, Revisteiros, Escrivaninha e Poltrona Tridente.
A diretora da ETEL, Lissa Carmona, comenta a reedição: “Há uma questão de ética muito importante aqui. Como trazer obras clássicas, atualizá-las e colocá-las no mercado? Não é algo simples. É por isso que sempre fiz questão de estudar atentamente o acervo da Lina”, comenta.
Esse é o segundo ano em que a SP-Arte dedica um setor ao design. “Trazer esse projeto para uma feira é muito importante, pois expande as fronteiras que delimitam as diferenças entre arte e design. As obras de Vergara são totalmente interdisciplinares. E a Lina é o maior exemplo dessa união de saberes”, afirma.
Talks
Lissa Carmona foi uma das participantes do painel do Talks dedicado ao design. Realizado na manhã da última sexta-feira (07), o debate também contou com a presença da professora de design da USP, Maria Cecília Loschiavo, o diretor do Museu da Casa Brasileira, Giancarlo Latorraca, e a mediação de Kristina Parsons, da plataforma Artsy.
O grupo debateu os dilemas do design contemporâneo e, especialmente, o atual contexto brasileiro. “Em tempos de incerteza e crise ambiental, o design pode ser protagonista, valorizando modos de vida pouco convencionais”, afirmou Loschiavo.
A professo da USP cita exemplos de pessoas em condição de rua que, a partir de materiais como papelão, criam estruturas de moradia. “São culturas de adaptação e que têm um enorme potencial”, afirma
O diretor do Museu da Casa Brasileira, por sua vez, falou sobre o acervo da instituição e também da criação de uma identidade do design brasileiro. “A questão da cópia dos modelos de fora é um tema muito antigo, desde a vinda da família real para o Brasil em 1808. Ainda não resolvemos essa questão, para a qual Lina Bo Bardi foi uma figura imprescindível”.
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