Uma das maiores instituições de arte da América Latina, o Museu de Arte Contemporânea da USP quer atrair empresas privadas para realizar exposições em sua sede. A instituição, que fica em um edifício projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, tem desde 2014 uma política que permite que produtores culturais externos organizem mostras no museu.
Com o objetivo de divulgar essa medida, o MAC organiza um workshop no dia 15 de fevereiro para que os interessados conheçam os critérios necessários para participar. Essas exposições vindas de fora podem ser tanto com obras do acervo do museu quanto com produções de outros artistas. Porém, são as próprias empresas que devem arcar com a captação da renda necessária.
O atual diretor do MAC, Carlos Roberto Brandão, afirma que “o espaço reservado para as exposições de fora é menor do que o dedicado às mostras com curadoria da casa”. Ele ainda ressalta que a “vantagem de contar com a participação de produtores culturais externos é a de termos uma maior diversidade. É também uma oportunidade para apresentarmos novas leituras do nosso acervo”.
Indagado pela ARTE!Brasileiros se a medida seria uma forma de contornar a falta de verba, Brandão falou que “não se trata de um aspecto preponderantemente financeiro, mas de uma forma de ocupar melhor o espaço”. Ele menciona a exposição de Alex Flemming, apresentada no ano passado. A retrospectiva, que reuniu mais de 120 trabalhos da produção do artista, foi organizada por uma empresa privada.
Diretor do museu de 1998 a 2012, José Teixeira Coelho Neto afirmou que esse tipo de medida é um recurso “que pode ser bom ou ruim, depende de sua aplicação. Mas não deixa de ser uma forma de aproximar o museu e as empresas privadas”. Ele cita o exemplo do Centro Cultural Banco do Brasil que, por não possuir sua própria coleção, abre editais para que o produtores culturais apresentem seus projetos”.
Coelho ainda afirma que para esse tipo de medida dar certo é “preciso ter sensibilidade e critério de avaliação. Cabe ao gestor cultural saber determinar o valor das propostas que recebe e encontrar a melhor maneira de viabilizar, essa é uma questão da gestão cotidiana”.
Crise
Diante de um contexto de crise, o MAC também enfrenta problemas. Transferida, em 2012, da Cidade Universitária para a antiga sede do Detran, a instituição ainda mantém grande parte do seu acervo na USP. Também já precisou realizar alterações na programação deste ano.
O diretor comenta que, “assim como a maior parte dos museus, o MAC também está sofrendo com a crise. Já tivemos algumas exposições que foram canceladas por não conseguirmos captar. Até por isso é importante ampliarmos o nosso escopo dos produtores culturais externos, que muitas vezes tem propostas interessantes que podem nos ajudar”.
Ainda sobre o tema, Teixeira Coelho comenta que “o sistema da arte no Brasil é extremamente frágil. Ele é totalmente dependente da vontade dos governos e da disponibilidades dos patrocinadores”. Coelho comente que “quase nenhum museu do mundo se sustenta por si próprio. Mas há mecanismos que colaboraram para sua existência. O Louvre, por exemplo, tem 50% do seu orçamento proveniente do Estado nacional”.
Porém, ele enfatiza que a responsabilidade não é apenas dos governos, mas da sociedade civil como um todo. “Nos EUA, uma grande parte dos recursos necessários aos museus vem de patrocinadores privados. Essa consciência, no Brasil, é quase inexistente, com raras exceções”.
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