Mais de 70 atores foram contratados pelo Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires – Malba para fazer parte da mostra Experiência Infinita, a primeira da gestão do espanhol Agustín Pérez Rubio à frente da instituição.
Com isso, ao invés de expor objetos, Rubio apresenta trabalhos de oito artistas que, por meio de ações performáticas, questionam o caráter do próprio museu.
A primeira obra é exemplar nesse sentido. Entre Outros Acontecimentos, da dupla Elmgreen & Dragset, é composta por dois pintores desempregados que são pagos para pintar a sala de branco durante os dois meses em que a mostra fica em cartaz. “Com esse trabalho, exponho aos visitantes algo que costuma ser visto apenas nos bastidores, durante as montagens das mostras, revelando assim algo que é parte do processo do museu”, disse Rubio à ARTE!Brasileiros, em Buenos Aires.
Com esse trabalho, contudo, Rubio aponta também em sua primeira mostra uma possibilidade de esperança e renovação das funções de um museu, já que, após o branco das paredes, sempre há a expectativa de algo novo por vir.
A segunda sala segue no mesmo caráter de questionamento da instituição, como Narrativa Instantânea, de Dora Garcia. Quem entra nesse espaço dá de cara com a projeção de uma tela de computador e rapidamente se dá conta de que o texto que nela surge é escrito por uma pessoa que se encontra na sala e, por isso, pode descrever o que ali acontece. Dessa forma, a artista coloca a presença do público como parte essencial da instituição, mesmo procedimento do artista da sala seguinte, Roman Ondák, com Mecanismo de Relojoaria.
Nesse trabalho, um dos atores contratados pelo museu pergunta as horas e o nome de todos que entram na sala e os escreve na parede, criando um mapa perfeito de todo o público da mostra, com forte impacto visual, e que só se completa quando o último visitante por ali passar, mas que será o último a ver o trabalho afinal.
Uma das obras mais impactantes da exposição vem do argentino Diego Bianchi, com Suspensão da Incredulidade, na qual um ator está amarrado a diversos objetos da sala e a cada pequeno movimento de seu corpo sons intensos reverberam pelo espaço.
Todos os trabalhos de Experiência Infinita possuem esse procedimento de terceirização, ou seja, não são os artistas que criaram que realizam as ações, mas eles terceirizam a atividade para outros artistas, por isso, os 70 atores contratados, que se transformam em intérpretes de roteiros previamente elaborados. Não por acaso, a ação de Pierre Huyghe se chama Intérpretes (máscara), composta por uma pessoa que deambula pelo museu com uma máscara de pequenas lâmpadas, como um ser fantasmagórico dentro da instituição.
Não poderia faltar, em uma mostra dessa natureza, Tino Sehgal, que recentemente apresentou cinco trabalhos na Pinacoteca do Estado. No Malba, Sehgal comparece com um de seus trabalhos mais conhecidos, This is Propaganda, que acontece em meio à coleção permanente do museu. Lá, um ator vestido como guarda cantarola “This is propaganda”, ironizando a função de um museu.
Com Experiência Infinita, Rubio apresenta uma seleção de artistas internacionais bastante respeitável, em formato arriscado e ousado, o que é bastante promissor para início de gestão. Para um museu dedicado à arte latino-americana, o novo diretor aponta que a arte pode ir muito além de geografias regionais e, sobretudo, que ela se faz a partir de pequenas ações, que não precisam ser espetaculares.
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