A fotógrafa norte-americana Nan Goldin tem sido testemunha da destruição da substância das relações humanas. As imagens que compõem a mostra em exibição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro são, talvez, um dos melhores exemplos da fragilidade do status quo da obra de arte em si mesma. Desde adolescente, Goldin foi vítima dos cenários de sua audácia. Aos 15 anos já fotografava prostitutas, homossexuais, drogados, gente espancada, e tudo mais que faz parte do submundo e que é seu ideário. As instituições que querem abrigar suas obras têm de saber de antemão.
Os vídeos e as fotografias de Goldin identificam a atrofia do espaço de seres marginalizados que vivem em isolamento social. O impulso que a conduz para esses “infernos” vem de sua adolescência, quando descobriu prematuramente a potencialidade dessas imagens. A maior parte delas fala da ausência de relacionamento entre as pessoas, da frustração da pessoa humana na sociedade contemporânea, da obsessão pela unicidade de cada indivíduo e a soma de suas qualidades. Enfim, Goldin faz um trabalho silencioso de criador vivo, que muitas vezes é compreendido como um trabalho sujo, gratuito, de prostituição explícita, perante uma realidade conhecida e identificável.
[nggallery id=15912]
A mostra de Goldin não poderia estar em um habitat tão apropriado como o Rio de Janeiro no período do carnaval, no entanto, poderia estar em qualquer outra cidade que se entregue à folia de Momo. A sempre eficiente curadora Ligia Canongia acertou em cheio. Em meio a certa mesmice do circuito de arte, a mostra se sobressai, é um soco no estômago, cheia de coragem porque está em um espaço público, revolucionária porque tange injustiças e hipocrisias de uma sociedade acostumada ao noticiário e programas televisíveis, ao alcance das crianças, e que exibem cenas mais aterradoras que as de Goldin e, por último, porque a mostra é fresca e atual.
Pena que a fragilidade só se manifeste em circunstâncias atemporais e que o processo dialético só ocorra quando um artista toca na pluralidade do ser humano por inteiro. Goldin não atua na esfera dos perdões humanos. Não quer ser excluída, mas com certeza não importa se a excluam. Independentemente do que o futuro reserve às artes, o processo de alienação da sociedade será sempre alvo de um artista atento e diferenciado como Nan Goldin.
Deixe um comentário