Como diria Caetano Veloso, “alguma coisa está fora da ordem social”. Em uma sociedade em que uma pessoa só é considerada quando aparece, em que todos fotografam e inudam as redes sociais de selfies em uma busca de tornarem-se celebridades por algumas segundos (os 15 minutos de fama do artista norte-americano já são coisa do passado), fotografar nas ruas da cidade se tornou um problema. Todos reclamam seu direito de imagem. Tudo é proibido, tudo necessita de aprovação, ainda mais se a pessoa é profissional e aponta suas lentes para o cotidiano da cidade ou da praia.
Nada disso intimidou o fotógrafo carioca Rogério Reis, uma das referências da fotografia e do fotojornalismo brasileiro. Irônico, espirituoso e provocador, desde os meados da década de 2000 ele vem fotografando pessoas nas praias cariocas, mais precisamente no Arpoador, zona sul carioca.
Para não sofrer repressão, ou quem sabe até processos, ele esconde o rosto das pessoas com bolinhas coloridas. Uma referência a recursos usados antigamente pela imprensa para proteger a identidade de menores ou de pessoas suspeitas. Bolinhas que também foram usadas no Brasil para censurar cenas consideradas impróprias, quando passou pela primeira vez o polêmico filme Laranja Mecânica (1971), do cineasta Stanley Kubrick.
Dessa maneira, como o próprio fotógrafo se define, “me tornei um paparazzo dos anônimos”. Fotografar sem ser percebido. Mas Rogério Reis não é um paparazzo, é um fotógrafo com um olhar precioso e detalhista. É um crítico da contemporaneidade ou de certa banalidade da contemporaneidade. E sem alarde combate essa pseudonecessidade de ser visto como uma crônica deliciosa e, ao ver essas imagens, somos levados, em um primeiro momento, a sorrir, mas também percebemos que estamos diante de um tema para refletir.
Esse material foi apresentado em 2011 no FotoRio, sendo exposto em seguida na Maison Européenne de la Photographie em Paris (que comprou uma série de 34 imagens) e exibido na Galeria da Gávea, em 2014.
O trabalho agora virou livro editado pelo recente selo Olhavê, de Alexandre Belém e Georgia Quintas, que desde o ano passado têm publicado belos livros sobre a poética da fotografia brasileira.
Ninguém É de Ninguém
Fotografias: Rogério Reis
Edição e narrativa: Alexandre Belém
Design: Yana Parente
Coordenação editorial: Alexandre Belém
Impressão: Ipsis
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