O brega ganhou o horário nobre

Foto de L
“Sideral”, foto de Luiz Braga

Para além de sua culinária particular, de seus edifícios históricos e de seu clima, a cidade de Belém do Pará foi também responsável pela consolidação de um inconfundível gênero musical brasileiro: o brega. O movimento, inicialmente existente apenas na periferia de Belém, logo ganhou as mentes e os pés das pessoas e se espalhou por toda a região, tornando-se marca registrada da capital paraense.

O brega também ajuda a servir de elemento de ligação para toda um universo que Luiz Braga, fotógrafo conterrâneo deste tipo de música, capturou a partir de suas lentes: “O brega é uma manifestação autêntica de um povo marginalizado”, explica Braga, que desde o início dos anos 80 retrata a cultura da Amazônia paraense.

Ficou mais fácil entender este mundo com a exposição que o artista organizou na Galeria Leme, em São Paulo. Intitulada Sideral, a mostra traz fotografias, em sua maioria inéditas, realizadas entre 1982 e 2015. O titulo não é por acaso: Sideral é o nome de uma aparelhagem de som itinerante presente nos bailes e festas populares das cidades paraenses. E foi uma dessas, justamente, que Braga eternizou em uma de suas fotografias – que leva o mesmo nome, Sideral.

"Banda no Marajó", de 2015
“Banda no Marajó”, de 2015

Na mostra, tudo parece convergir para esta fotografia. Como uma estrela, ela ocupa sozinha uma parede, e em volta dela as demais se agrupam. Trata-se da imagem de um casebre de madeira que serve de abrigo para festas populares. Noturna, ela traz uma interessante paleta de cores: o escuro da noite e das sombras, o roxo e o verde das luzes. Mesmas cores que, não raro, estão presentes nas fotografias espaciais obtidas a partir de sondas e satélites: nessas imagens, o verde, o roxo, o branco e o negro se misturam e apresentam verdadeiros universos, muitas vezes incompreensíveis para nós, ao mesmo tempo que fascinantes. Braga, em Sideral, acaba criando esse efeito: traz para a foto de um palco de festejo popular os mesmos elementos de uma fotografia espacial. “Aqui estão sintetizados todas as características do universo paraense: a simplicidade, o acolhimento, o afeto, a autenticidade, o brega” complementa o fotografo. Sideral, de acordo com os dicionários, é tudo aquilo que remete às estrelas.

A fotografia em questão é tal qual um astro: em volta orbitam todas as demais imagens, cada uma trazendo um fragmento da cultura local. Como em uma galáxia ou sistema, observa Braga, uma fotografia puxa a outra, seja por meio de uma cor, de um detalhe ou até de uma personagem. “A sintonia entre os trabalhos é tamanha que os realizados nos anos 1980 convivem pacificamente ao lado de recentes, sem que o espectador perceba”, aponta o fotógrafo. Os elementos em questão, para ele, acabam causando uma sensação de atemporalidade.

O fotografo afirma que hoje o brega ganhou o horário nobre. Observando a posição em que se encontra Sideral, pode-se concordar.

Serviço – Sideral
Até 11 de junho
Galeria Leme – Avenida Waldemar Ferreira, 130 – Butantã – São Paulo/SP
(11) 3093-8184
galerialeme.com


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