O impacto da Bienal no mercado de arte

De Um evento das dimensões da Bienal de Arte de São Paulo, o qual devemos ao gênio empreendedor de Ciccilo Matarazzo, espera-se que tenha no mercado consequências proporcionais a sua grandeza. A exposição intensiva da população às artes plásticas durante os três meses de duração da Bienal, incrementam a movimentação nas galerias e instituições de arte. Isso acaba se refletindo no mercado internacional e no valor das obras dos artistas brasileiros. Durante a Bienal, São Paulo lembra Paris é uma Festa, nos relatos do escritor Hemingway. Há incontáveis eventos socioculturais, envolvendo os visitantes nacionais e internacionais num festival de vernissages, coquetéis, jantares e happy-hours. A Paralela criada em 2002 pela união de quatro galerias de arte contemporânea de vanguarda, Brito Cimino, Casa Triângulo, Fortes Vilaça e Luísa Strina, apresentava desde a primeira edição na Água Branca, passando pela Vila Olímpia e Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Ibirapuera, e finalmente agora no Liceu de Artes e Ofícios, um sucesso de público e de vendas que mostra a viabilidade de uma feira anual de arte contemporânea, resultando na SP-Arte de Fernanda Feitosa.

Como forma de aumentar a visibilidade da sua representação, há dez anos Luísa Strina vem organizando, durante o período da Bienal, uma exposição de obras dos artistas por ela representados no espaço de sua galeria. Com a inauguração de novas e maiores instalações a exposição deste ano ocupa todos os espaços expositivos disponíveis de ambas as galerias. André Millan apresenta no mesmo período exposição solo de seu internacionalmente celebrado artista Tunga com uma grande instalação que já viajou o mundo todo no andar de cima. O galerista nos conta que esta edição veio resgatar o prestígio da Bienal abalado pela de dois anos atrás chamada “a Bienal do vazio”. No dia da abertura, no domingo que antecedeu a primeira semana da Bienal, já se via uma enxurrada de curadores, representantes institucionais e colecionadores estrangeiros pela galeria. Millan não conta os números, mas revela que a instalação de Tunga já foi vendida para Inhotim. Os totens na exposição tem o preço de 250 mil dólares cada. A galerista Raquel Arnaud, como já faz há muitos anos, organizou para este período uma coletiva de seus artistas e mandou para cada visitante estrangeiro, em seus hotéis, um folder com informação sobre obras e locais de exposições de seus artistas. Embora também tenha participado da Paralela, Raquel Arnaud acredita mais na produção individual por galeria, pois embora ocorram em espaços diferentes, podem dialogar entre si. O investimento financeiro que uma paralela exige para que seja boa e o esforço necessário para tal nem sempre é compensado pelo resultado final. Raquel Arnaud não esconde sua decepção com a seleção dos artistas para a paralela que inclui apenas um de seus representados. “De um modo geral me entristeceu a seleção deste ano”, desabafa Raquel. Em compensação um trabalho de Carmela Gross foi adquirido pelo MoMA de Nova York, outro pela Pinacoteca, e mais dois trabalhos estão em negociação com a Tate Modern de Londres e o Museu de Houston.

Até o low-profile marchand Paulo Kuczinsky se viu assediado por visitantes ávidos por visitar seu escritório. Paulo mostra uma obra de grandes dimensões de Nuno Ramos, três parangolés de Hélio Oiticica e uma singular escultura de Ernesto Neto. “Não estava preparado para tanto movimento”, confessa o marchand.
O fato é que nem ninguém nem nada passa impune pela Bienal!
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Marco Aurélio Jafet é administrador de arte com título de MFA (Master of Fine Arts) pela Columbia University de Nova York


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