A história do Museu de Arte Moderna de São Francisco é marcada pelo brilho constante de inserção em seu acervo de todo tipo de mídia. O moderno edifício, desenhado pelo arquiteto italiano Mario Botta, fica no coração da cidade e pulsa orgulhoso por ser o primeiro da Costa Oeste dedicado exclusivamente à arte do século XX e também o primeiro a abrir suas portas à fotografia como arte, já em 1935.
Durante todo este ano a comunidade californiana se movimenta em torno das comemorações dos 75 anos do SFMoMA, que nasceu ousado, sem dar as costas aos inquietos artistas que se mesclavam aos movimentos de contracultura dos anos 1960. No olho do furacão, a fotografia sempre teve passe livre no museu, onde os ícones da moda, do fotojornalismo e do experimentalismo tiveram livre acesso.
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A chave de conexão entre os trabalhos de fotógrafos tão díspares como Man Ray, Dorothea Lange, Robert Adams, Robert Rauschenberg, Sebastião Salgado gira em torno de desejos, poesias, denúncias, ideais e afinidades produzidas pela fantasia nascida através da objetiva. A convivência da fotografia com as artes visuais ampliou as discussões sobre o papel da arte e a assimilação da foto como instrumento de reflexão sobre a institucionalização da arte moderna e da contemporânea.
Atento a um dos preceitos da fotografia, que é expor a imagem como forma de criação e não como mero elemento de veracidade, o SFMoMA mantém um importante departamento dirigido por Sandra Phillips, que inclui trabalhos desde Alfred Stieglitz, Ansel Adams e Arthur Rothenstein, assim como trabalhos de alemães da década de 1920 e da Vanguarda Europeia ligada ao Surrealismo dos anos 1930. Phillips tem a intenção, mas não sabe se poderá conferir a SP-Arte/Foto.
Um dos batalhadores pelo acervo de fotos foi Henry Hopkins, um atento diretor que morreu no ano passado e promoveu a foto ao longo de sua gestão. Em entrevista a mim concedida em 1986 ele dizia que a integração da foto com a arte se deu, de fato, por meio da pop art, da arte conceitual e das diferentes práticas artísticas de caráter experimental desenvolvidas ao longo das décadas de 1960 e 1970.
Nos últimos 30 anos, artistas de todo o mundo têm criado novas formas fotográficas, revolucionando a arte e levando a fotografia de um meio periférico para uma posição privilegiada no mundo artístico. Para o crítico francês Phillipe Dubois, há algumas décadas a fotografia aspirava a ser arte, mas hoje é a arte que se deixa influenciar pelas lógicas formais e conceituais próprias à fotografia.
O SFMoMA, que ao longo de todo esse ano incorporou a fotografia em seus festejos, no próximo mês abre a coletiva Novas Topografias, reunindo obras de paisagens alteradas pelo homem, de autoria de 10 fotógrafos. Fazem parte do elenco os antológicos Bernd e Hilla Becher, casal vencedor do Prêmio Hasselblad, em 2004, por seu trabalho sistemático sobre a arquitetura funcionalista que os reconheceu como artistas conceituais. Eles fundaram o que veio a ser conhecido como a Escola Becher, por terem influenciado várias gerações. Foram os pioneiros no movimento Novas Topografias e ajudaram na criação do California Museum of Photography. Também está na coletiva Henry Wessel, o fotógrafo de bungalows, casas de madeiras pintadas de cores diferentes, mas com semelhanças estruturais que a objetiva de Wessel captava com as mesmas composições arquitetônicas. Uma crítica à futilidade fabricada pelo sonho americano da casa própria. É ainda possível rever as fotos de Joe Deal, que em 1975 foi um dos jovens fotógrafos americanos a integrar a histórica Man-Altered Landscape, mostra organizada na George Eastman House, em Rochester, Nova York.
Sandra Phillips, responsável pelo acervo de fotografia do SFMoMA, acredita que conferir as impressões originais é fundamental para se manter a credibilidade do mercado internacional
ARTE!Brasileiros: Apesar de o MoMA de Nova York ter exposto fotografias em 1929, o SFMoMA é festejado pelos fotógrafos como um museu que gosta de fotografia. Como você vê essa atuação?
SANDRA PHILLIPS: O Museu foi fundado em 1935 e é o primeiro no oeste dos EUA a exibir fotografias de uma forma consistente. Isso se deve ao fato dos grandes artistas modernos que viveram aqui terem sido fotógrafos (Edward Weston, Dorothea Lange, Ansel Adams, Imogen Cunningham, etc.).
AB.: Em que espaço físico a fotografia está situada dentro do museu, independente deste ano de comemorações do aniversário do SFMoMA?
S.P.: Nós temos a galeria do terceiro piso, que ocupa todo o andar, e que é nosso espaço para exibições normais. A fotografia está bem representada no segundo piso em uma exibição que também ocupa todo o andar e que é devotada à história do museu – The Anniversary Show. Nós também estaremos inclusos de forma significativa em novembro, quando as galerias do quinto andar abrirem com uma grande coletânea contemporânea; portanto, estamos por todo lugar. O SFMoMA é diferente do MoMA.
AB.: Como foi pensada esta grande exposição The view from here (A vista daqui), que faz uma ampla reflexão sobre a fotografia americana?
S.P.: Nós decidimos expor artistas da Califórnia, com ênfase nos maravilhosos fotógrafos do século XIX como Carleton Watkins e também Weston, Ansel Adams, etc. Mas também não deixamos de lado os trabalhos mais contemporâneos de Robert Adams, Larry Sultan, Jim Goldberg, etc., que também foram incluídos. Esta é, sem dúvida, uma grande exposição.
AB.: Como você vê o limite entre a fotografia e uma obra de arte?
S.P.: Eu acho que é muito importante que os fotógrafos sejam aceitos pelo que chamam de “artistas visuais”. Acho isso um fenômeno extremamente interessante e empolgante.
AB.: O que você acha de feiras de arte, especialmente as voltadas à fotografia?
S.P.: Eu não tenho uma opinião sobre as feiras de arte, peço desculpas! Creio que existem muitas pessoas que compram arte em feiras, porém, não sei se isso irá durar com essa economia atual. Isso incentiva a compra espontânea, mas talvez essa não seja a melhor forma de se comprar. Vejo alguns jovens fotógrafos que vendem por meio da forma tradicional e estão se dando bem, estabelecendo uma relação com a galeria ou galerias, não necessariamente no mesmo lugar. Acredito ser importante ver as impressões originais, essa é minha maior sugestão.
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