Dono de um estilo implacável, Robert Hughes ocupou, durante 30 anos, o cargo de crítico de arte da revista Time e ficou conhecido por sua coragem para enfrentar o mercado. Não se rendia a ele. Definiu as esculturas de Willem de Kooning (1904-1977), considerado um dos mais importantes artistas do século 20, como “gigantescas melecas de nariz” e chegou a declarar que Andy Warhol (1928-1987), figura maior do movimento de pop art, “era o tipo que não tinha nada a dizer”, além de “uma das pessoas mais chatas” que já conheceu. Era mordaz, capaz de abalar reputações.
Autor de ensaios brilhantes, também escreveu livros que entraram para a história. Em Goya, dá ao pintor e gravurista espanhol que viveu entre 1746-1828 o posto de “primeiro repórter visual moderno da guerra”. Em O Choque do Novo, outro clássico, Hughes destila sua ironia contra a arte moderna, e em Visões da América trata da natureza da arte produzida nos Estados Unidos. Essas publicações se desdobraram em programas de TV – o próprio Hughes dirigiu alguns documentários televisivos.
Mas a obra mais célebre de Hughes é The Fatal Shore (A Costa Fatal, em tradução livre), sobre a colonização australiana e o início da Austrália como colônia penal da Grã-Bretanha. Publicada em 1987, tornou-se best-seller internacional e, em 2011, foi eleita pela própria Time um dos cem livros de não-ficção mais importantes escritos em inglês desde 1923.
Na esfera pessoal, Hughes, que alcançou fama por suas críticas ácidas à arte moderna, passou por momentos terríveis. Em 1999, sofreu um acidente de carro na Austrália, onde nasceu, e quase perdeu a vida. Dois anos mais tarde, outro baque: seu único filho cometeu suicídio aos 34 anos.
Antes de se tornar crítico de arte, Robert Hughes foi cartunista em Sidney (Austrália). Depois, transferiu-se para a Europa e, nos anos 1970, adotou Nova York como residência. Foi lá que exerceu o cargo de crítico de arte na revista Time e onde ganhou o apelido de Bob olho-vivo, em referência ao seu olhar apurado. Hughes morreu na última segunda-feira, dia 6 de agosto, aos 74 anos. O mundo perde a genialidade do olhar do crítico que foi odiado e, ao mesmo tempo, reverenciado.
Deixe um comentário