A profusão de imagens hoje produzida coloca para o observador da arte um desafio semelhante ao de uma esfinge, num jogo no qual o que revela também esconde. A fotografia do índio ianomâmi, feita por Claudia Andujar nos anos 1970, e reproduzida na capa, traduz algumas das questões discutidas nesta edição. Seu entendimento exige um olhar que vá além do registro objetivo, equacionando-o com o que é sugerido em suas texturas e cores.
Em entrevista com Carolyn Christov-Bakargiev, curadora da 14ª Bienal de Istambul, Fabio Cypriano ressalta que, nas mostras organizadas pela norte-americana, “o mais aparente nem sempre é o que interessa, mas uma chave para abordar temas complexos”. Em Istambul, Christov-Bakargiev se debruçará sobre o tema do genocídio dos armênios na Turquia, ocorrido há 100 anos, sem exibir obras literais, mas sim vasos do francês Émile Gallé. “Tratar de art nouveau é também uma forma de abordar a questão armênia, pois eles eram os artesãos que faziam moldes para os prédios de Istambul”, afirma a curadora.
Christov-Bakargiev também já esteve à frente da dOCUMENTA, que neste ano completa 60 anos. A propósito da mostra alemã, Nuno Rocha escreve que, a partir da edição de número 11, que teve Okwui Enwezor como curador, a dOCUMENTA passou a ser mais que uma exposição, “tornou-se um tipo de encontro de saberes e um campo aberto à discussão da atualidade. Ainda segundo Rocha, “a dOCUMENTA virou então uma ex-posição, lugar onde diferentes objetos encontram um novo contexto fora de sua posição anterior”.
Em sua primeira individual na Argentina, o paulistano Nino Cais apresenta colagens feitas com imagens fotográficas antigas. Em alguns trabalhos, Cais passa uma fita de cetim sobre corpos femininos nus, num jogo de esconde e revela, de dentro e fora”, segundo ele. Noutros, rasga as imagens, pois, segundo ele, a superfície das fotos já não lhe basta: É preciso sangrá-las de modo simbólico”.
A superfície tampouco interessa a Claudia Andujar. Em um vídeo feito para a mostra Amazônia Ocupada, de João Paulo Farkas, e exibido durante o TALKS/Foto: Reflexões, a artista conta como foi sua aproximação com os ianomâmis, nos anos 1970. A fotógrafa diz que não sacou de início sua câmera: “Quis observar, entender. Depois que senti que eles estavam um pouco mais à vontade, comecei. A primeira coisa que fiz foi ver como andavam, como eram as casas deles, as malocas. Senti que isso não significava tanta coisa. O que me interessava era entrar na alma das pessoas”, diz. Boa leitura!
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