Tudo Vazio Agora Cheio de Mato é o nome da exposição de Caio Reisewitz, na Luciana Brito Galeria, em São Paulo, até 17 de agosto. “Tudo”, “vazio”, “cheio” são palavras que remetem ao espaço. “Agora” diz respeito ao tempo: tudo estava vazio, mas alguma coisa aconteceu e agora está cheio de mato. Afinal, logicamente, pela lei do terceiro excluído, algo não pode estar cheio e vazio ao mesmo tempo. Ou pode?
É no intervalo entre o cheio e o vazio que se situa a obra deste fotógrafo paulistano cujas imagens ampliadas em grandes dimensões e com apuro técnico fazem parte de importantes coleções públicas e particulares, no Brasil e no exterior. Em 2006, o fotógrafo foi uma das estrelas do festival Photo España, em Madri, quando ocupou três andares da Casa de América. Um pouco antes, havia representado o Brasil na Bienal de Veneza, com o grupo Chelpa Ferro, e se destacado na Bienal Internacional de São Paulo.
Nascido em 1967, Caio Reisewitz estudou na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e fez mestrado em Artes Visuais, na ECA-USP. Depois, rumou para a terra de seus ancestrais, a Alemanha, para completar sua formação na Academia de Arte e na Fachoberschule für Gestaltung, ambas em Mainz, e na Peter Behrens Schule, em Darmstadt. O fotógrafo usa uma câmera analógica profissional, a Linhoff, boa para captar a profundidade arquitetônica em seus negativos de 4 x 5 polegadas, que depois são escaneados em altíssima resolução. A ampliação também é feita na Europa.
Uma de suas linhas de pesquisa fotográfica é o estado intacto e o estado alterado da natureza. A série poderia se chamar Utopias Ameaçadas. Por exemplo, em 2010, Reisewitz viajou para a região da Foz do Iguaçu para fotografar o transbordamento das águas em lugares em que antes isso não ocorria (naquele ano, chuvas provocaram inundações, desbarrancamento e mortes em vários municípios do Brasil). Outros trabalhos nessa vertente são Bertioga, Goiânia VII e Itaquaquecetuba.
A segunda linha de seu trabalho é a de prédios imponentes, sejam barrocos ou modernos. Reisewitz investiga “representações de interiores brasileiros que, de certa forma, colocam a questão do poder, lugares que você entra e se sente acanhado de tão grande que é”, como o Palácio do Itamaraty, em Brasília, criação de Oscar Niemeyer. Raramente em suas fotos se vê a figura humana.
Na Luciana Brito há uma mescla desses dois caminhos. Ele escolheu, por exemplo, fotografar a Casa das Canoas, em São Conrado, RJ, desenhada por Niemeyer no início da década de 1950 e desde então considerada um raro exemplo de integração de natureza e espaço arquitetônico moderno. Estão lá o concreto curvo, o vidro e a cerâmica no piso, tomados pelos tons de verde da vegetação exuberante da Mata Atlântica. Algo parecido acontece com a Casa de Vidro, em São Paulo, só que sem as curvas. A terceira residência cercada pela vegetação de Reisewitz é a chamada Casa Modernista da Vila Mariana, na rua Santa Cruz, também em são Paulo, projetada por Gregori Warchavchik, em 1927. O plano paisagístico da residência, considerada a primeira casa modernista do Brasil, é de sua mulher, Mina Klabin Warchavchik.
O artista completa a exposição com imagens de igrejas barrocas, nas quais o excesso e o exagero dão a tônica. Ele procura registrar monumentos arquitetônicos brasileiros representativos e, a partir daí, praticar um exercício de reflexão e intervenção orgânica. “Existe a realidade como ela é e a construída. O interior de uma igreja barroca, por exemplo, é uma obra de arte em si, plena de detalhes requintados. E também há cenas da natureza em que, apesar de ser uma realidade direta, ela é tão elaborada que você pode pensar que foi construída ou teve algum tipo de montagem ou manipulação, o que não ocorreu”, diz Reisewitz no release. Ele é conhecido por suas imagens desoladas, apenas com indícios de uma humanidade ausente. Tudo Vazio Agora Cheio de Mato talvez seja uma tentativa de construir uma narrativa do encontro, em que a esperança esteja de volta e a integração homem/natureza até parece possível.
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