Paisagens desnudas

Mariannita Luzzati, sem título, 2015, óleo sobre tela. Foto: Divulgação
Mariannita Luzzati, sem título, 2015, óleo sobre tela. Foto: Divulgação


As viagens que a paulistana
Mariannita Luzzati faz Brasil afora, ao lado do marido, o pianista Marcelo Bratke, levando música e um pouco de natureza a penitenciárias do País, alimentam o imaginário da artista plástica. De norte a sul, ela faz registros do cenário natural brasileiro, que são exibidos durante os concertos de Bratke, nas cidades por onde o projeto Cinemúsica passa. Algumas dessas imagens foram traduzidas por Mariannita nas seis telas e 21 desenhos pequenos, uma série inédita que a galeria Marcelo Guarnieri, de São Paulo, expõe até o dia 14 de setembro. 

“Estava há alguns anos em Vitória e em Vila Velha, no Espírito Santo, observando as montanhas num fim de tarde, quando comecei a pensar a remover o excesso de informações, de ruídos, causados pela presença humana na paisagem”, conta a artista, que fotografava e filmava os lugares, para posteriormente criar suas obras em Londres, onde, desde 1994, passa parte do ano, quando não está em São Paulo.

Mariannita iniciou sua carreira no fim dos anos 1980 e já em 1989 realizou sua primeira individual, no Centro Cultural São Paulo. Teve aulas com Carlos Fajardo e Evandro Carlos Jardim – “Devo minha formação a esses dois mestres”, diz – e começou sua trajetória se dedicando aos desenhos e às gravuras antes de experimentar a pintura, já nos primeiros anos da década seguinte. “Foi um processo natural. Primeiro vieram os desenhos com lápis preto, depois chegaram as cores e mais tarde a pintura entrou trazendo volumes”, diz.

A natureza sempre foi um tema caro à artista. Em seu livro Mariannita Luzzati e a Pintura de Paisagem em Geral (Ateliê Editorial), o historiador da arte Gabriel Pérez-Barreiro, que foi curador da 6ª Bienal do Mercosul, em 2007, observa que,”embora tomando por base lugares específicos (as imagens criadas por Mariannita) são suficientemente abstratas para remeter a inúmeras referências e memórias. Como espectadores, temos a sensação de ‘já termos estado ali’, de conhecermos os lugares e, sendo assim, dada a sua falta de especificidade, eles falam às nossas experiências individuais, nossas lembranças pessoais e, portanto, nossa constituição psicológica”.

Mariannita Luzzati, sem título, 2015, óleo sobre tela. Foto: Divulgação
Mariannita Luzzati, sem título, 2015, óleo sobre tela. Foto: Divulgação


A exposição em cartaz na Marcelo Guarnieri, a terceira de Mariannita na galeria, marca sua volta aos desenhos, retomados há cerca de dois anos. A produção atual da artista traz uma diferença, no entanto, em relação ao que já foi visto em mostras na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Palácio das Artes de Belo Horizonte e na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim, entre outros espaços. “A paleta de cores mudou drasticamente. No começo da minha carreira eu gostava de cores fortes, mais puras, bem contrastantes. Com o tempo, fui limpando, explorando mais as possibilidades gráficas, e as cores ficaram mais frias”, conta.

Retiradas as interferências urbanas, as telas e os desenhos de Mariannita ainda guardam referências dos cenários que retratam: balneários litorâneos e regiões montanhosas, lugares como a Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, Santos, em São Paulo, e Niterói, no Rio de Janeiro. As pessoas, porém, “sempre veem o que querem”, afirma a artista, ressaltando o caráter um tanto onírico desses seus trabalhos. “É um convite para contemplar e refletir. Estamos precisando muito disso.”


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