Paulo Bruscky

Paulo Bruscky, DDI, 1992
A Obra Participou da X Bienal de havana
Desde o final da década de 1960, Paulo Bruscky tem produzido trabalhos de arte que se colocam para além das tradicionais linguagens artísticas. Sua atuação vai da performance à produção de livros de artista, passando pela arte postal, por experimentos com videoarte e intervenções urbanas. Bruscky foi um dos primeiros artistas no mundo a realizar obras de arte com máquinas de xerox e fax, geralmente empregando distorções e subvertendo as funções básicas do aparelho.

Nos anos de 1970, iniciou uma série de “desenhos pensados”, produzidos a partir de um eletroencefalograma. Daí resultaram gravuras que representam seu estado de ânimo e vídeos que revelam o processo de trabalho do artista. Seu percurso na arte sempre foi voltado para a investigação e para a abertura de novos campos de pesquisa. E sua respeitada trajetória é fundamental para a compreensão tanto da revolução pela qual a arte passou entre os anos de 1960 e 1970, como da cena contemporânea do Recife, cidade onde nasceu e vive até hoje.

Em plena ditadura militar, Bruscky teve papel político relevante, por conta de seu trabalho, chegou a ser
preso mais de uma vez. Ele encontrou na arte postal um modo de denunciar a censura no Brasil e de estabelecer uma rede de contatos que permitiu a troca de trabalhos com artistas de diversas partes do globo. Com a intenção de fazer seu trabalho circular não apenas nos espaços de museus e galerias, e sem nunca perder o bom humor, o artista pernambucano também passou a atuar nas páginas dos jornais.

Em 1974, ao lado de seu parceiro Daniel Santiago, fez anúncios inusitados em jornais de grande circulação. Um deles divulgava a “Composição Aurorial : exposição noturna de arte espacial, visível a olho nu da cidade do Recife”. Em letras menores, o anúncio buscava patrocinador para a proposta de “expor uma aurora tropical artificial colorida”, realizada a 100 km de altitude. Obviamente, o patrocínio nunca apareceu. Outro trabalho da série “Arte Classificada” provocou reações de estranhamento nos leitores ao anunciar a ideia de uma máquina de filmar sonhos. A mensagem também buscava sócios para a empreitada. Não demorou muito tempo até que esses trabalhos fossem proibidos pela direção dos jornais. Se hoje algumas de suas ações parecem inofensivas, é importante lembrar que o clima da época era intimidador e o medo era bastante presente, inclusive no ambiente artístico e cultural. Qualquer atitude que saísse da dita “normalidade” era rapidamente reprimida. E o seu trabalho justamente se opôs à ordem instituída.

Os anúncios de Bruscky acabaram contribuindo para que as fronteiras nítidas entre arte e publicidade desaparecessem. Para o artista, a arte também toma o lugar da propaganda. Em 1985, realizou uma exposição individual com trabalhos feitos em outdoor, em 22 capitais brasileiras ao mesmo tempo.

Embora classificado como um artista conceitual, Bruscky jamais abandonou o fazer ou desprezou a materialidade da arte. Mesmo depois de consagrado, para ele arte e vida nunca foram instâncias separadas.


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