Performance de Nuno Ramos e Climachauska não acontece como o previsto e levanta discussão sobre a incerteza na arte

Na noite desta terça-feira (4), o espaço de convivência do Sesc Pompeia estava lotado. O público esperava ansioso para presenciar a performance que os artistas Nuno Ramos e Eduardo Climachauska organizaram em sua obra O Globo da Morte de Tudo. O trabalho, que já foi apresentado na Galeria Anita Schwartz no Rio, é composto por dois globos de aço rodeados por estantes que abrigavam mais de 1.500 objetos. No planejamento inicial, dois motoqueiros girariam dentro dos globos, fazendo com que os apetrechos despencassem, espatifando-se no chão. No entanto, a performance não ocorreu como previsto, já que um dos motoqueiros se machucou durante a ação e apenas alguns objetos foram derrubados.  Assim como aponta a temática da 32ª Bienal de São Paulo – Incerteza Viva – a imprevisibilidade é parte importante da vida e, portanto, do fazer artístico. Confira abaixo a entrevista feita com os artistas antes de a ação ocorrer e o texto do crítico de arte e membro do conselho editorial da ARTE!Brasileiros, Fabio Cypriano, sobre a incerteza na performance.

Em performance, o que interessa é a experiência

Por Fabio Cypriano

A incerteza faz parte da natureza da performance. Quando Marina Abramovic realizou A Artista Está Presente, no MoMA, em 2010, a ação de mais de 600 horas, na qual ficou sentada frente a uma cadeira vazia, aguardando a participação do público, ela jamais imaginaria que provocaria filas imensas e se tornaria uma sensação na cidade. Desaconselhada pelo curador da mostra a realizar tão ação, ela seguia apenas um roteiro que marca sua carreira: criar em cada performance a possibilidade de uma experiência.

Nesse sentido, pouco importante que a maioria dos objetos se manteve intacta na performance Globo da Morte de Tudo, de Nuno Ramos e Eduardo Climachauska, realizada ontem, no Sesc Pompéia. De fato, as centenas de pessoas que lá se aglomeravam, tiveram uma intensa experiência coletiva.

E assim como na performance do MoMA, o público assumiu um importante papel, e foi um tanto assustador vivenciar o desejo de destruição coletivo que contaminou os presentes nos poucos minutos da ação. A cada estrondo por algo caído, muitos aplausos. Algo semelhante estimulou o escritor Elias Canetti a escrever Massa e Poder, publicado em 1960, um livro, aliás, muito atual.

Fui levado a imaginar que sentimento semelhante de destruição deveria existir nas arenas romanas. Viver esse lado perverso de forma coletiva costuma ser autorizado no esporte, mas não no campo da arte. Contudo, como toda performance, Globo da Morte de Tudo ocorreu rompendo as expectativas de catarse. Experiência também pode ser um exercício de frustração, e as palmas no final  – não ouvi vaias -atestam que mesmo o que não é sucesso merece apoio.


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