Totalmente dedicado à foto, o Pier 24 apresenta até janeiro próximo A Sense of Place, uma coletiva que leva em consideração o ambiente e nos faz perceber como as imagens dão forma à nossa percepção espacial. Levado pelas imagens dispostas nas grandes salas, o espectador é envolvido por reminiscências reunidas em lugares diferentes, recordações e experiências emocionais vividas ou não pelos autores.
As imagens reunidas nesta coleção de nomes, como Robert Adams, Doug Aitken, Uta Barth, Edward Burtynsky, Eric William Carroll, John Chiara, José Manuel Fors, entre dezenas de outros, mostram o que a fotografia sabe fazer de melhor, que é atrair nossa atenção para o dia a dia, que de outra forma ignoraríamos, passaríamos por cima e que aqui nos inquietam e nos inspiram para ver de perto os lugares ao nosso redor.
Uma brasileira está no elenco, a gaúcha Lucia Koch, que vive em São Paulo e trabalha a luz e o espaço, criando novos campos de percepção, ora em ambientes íntimos quase particulares ora em públicos e institucionais. Sua obra tem a limpeza minimalista e projeta o espectador para além do espaço expositivo. Essa impermanência do site specific é característica de seus projetos que exploram a intersecção entre a arquitetura e a arte. O trabalho de Lucia Koch no Pier 24 é uma janela que ocupa o espaço físico, como uma reação à topografia do lugar. Funciona como um filtro, definido pela posição que ocupa no edifício.
Já as obras de lugares incomuns de Stephen Shore recordam o espírito de qualquer cidade dos Estados Unidos, enquanto Paul Graham captura momentos na paisagem de Manhattan, através de uma série de dípticos e trípticos. Da mesma forma, América, de Lee Friedlander, mostra as excentricidades diárias específicas nos Estados Unidos, vistas sob o ponto de vista do interior de seu carro. Explorados através de instalações, os planos de William Carroll são produzidos em grande escala, criando ao espectador a sensação de estar no meio de uma floresta. O trabalho de Erik Kessels, 24 HRS de Fotos cria uma cascata do chão ao teto com fotos inseridas no Flickr durante um período de 24 horas. Ele permite que o espectador tenha uma experiência visual e física da enorme quantidade de fotos compartilhada on-line.
O Pier 24 surgiu quando Andy Pilará, 69 anos, um banqueiro investidor, remodelou um armazém deteriorado embaixo da Bay Bridge e criou uma imensa galeria de arte. Em seguida, comprou a sua primeira impressão de Diane Arbus em 2003 e, desde então, acumulou mais de duas mil fotos, realizadas pela lendária fotógrafa a partir dos anos 1830 e que constituem a base da coleção.
O conjunto causa impacto. “Eu não vi nada parecido com isso”, diz a curadora de fotografia do SFMoMA, Sandra Phillips, que conhece grandes coleções de fotografia no mundo ocidental. “Há muitos museus de fotografia, mas nada tão espetacular e tão pessoal, a ponto de se render à experiência de ver uma fotografia. Tudo isso é realmente único.”
O “Espaço da Fotografia”, como é chamado carinhosamente por Pilará, nunca teve abertura oficial. Mas, logo após os primeiros meses, o Pier 24 começou a tornar-se conhecido e atraiu curadores da National Gallery of Art, em Washington, do Metropolitan Museum of Art, do Museu de Arte Moderna, do Whitney Museum of American Art, sendo os três últimos de Nova York, e também do Instituto de Arte de Chicago, entre outros. “É, sem nenhuma dúvida, uma coleção mundial, que traz enorme valor a São Francisco, como um centro-chave para o estudo da fotografia”, diz o galerista Jeffrey Fraenkel, um apreciador nato da fotografia.
A Sense of Place
Até 1o maio de 2014
Pier 24 – The Embarcadero – São Francisco
415 512 7424 – www.pier24.org
Deixe um comentário