Plataforma de ideias

Rafael Lozano-Hemmer, Pulse, instalação, 2010, monitor de plasma 58”, projeção - Cortesia Carrol Fletcher
Rafael Lozano-Hemmer, Pulse, instalação, 2010, monitor de plasma 58”, projeção – Cortesia Carrol Fletcher

O Global Art Forum é o programa de bate-papo ao vivo, sobre um tema específico a cada ano, que reúne artistas, curadores, escritores, pesquisadores, profissionais e pensadores, durante cinco dias, e ocorre em paralelo à Art Dubai, para compartilhar estudos, empreendimentos, projetos e experiências. Ainda que organizado pela Art Dubai, o GAF é um evento por si só, e lá as pessoas conhecem o fórum como um evento diferente da feira de arte. Porém, qualquer feira que queira alcance internacional não pode se dar o luxo de não ter um programa de bate-papo ao vivo.

O GAF conta com a particularidade de ter sido uma importante ferramenta para o entendimento e a inserção da arte do mundo árabe em nível internacional, para logo em seguida se posicionar como um evento do pensamento artístico contemporâneo mundial. O fórum cumpre um papel-chave na região: pela primeira vez, artistas e personalidades da arte árabe têm a oportunidade de participar de um painel de discussão com nomes internacionais do mundo da arte.

Todo o conteúdo dos debates é digitalizado e documentado, algo de grande utilidade para estudantes. Assim como a feira, o GAF proporciona ao espectador uma plataforma de debate e pensamento para o entendimento da arte na região. Vale lembrar que o GAF não se realiza somente nos Emirados Árabes. Nos anos anteriores, foi realizado nos dias que antecederam a Art Dubai, em Doha, no Qatar. Neste ano, foi realizado no Kuwait e em Dubai, no que parece ser uma iniciativa da feira de levar a análise do pensamento artístico para todo o Golfo Pérsico.

Todos os anos a Art Dubai convoca uma ou mais pessoas importantes para dirigir o fórum e fazer a curadoria das apresentações. O tema principal é analisado em função dos diferentes processos da arte, do pensamento, da produção, da apresentação, da comunicação e do consumo. Para esta 9a edição, a discussão foi em torno das tecnologias e de seu impacto no mundo da arte, tudo sob o título Download Update?. Codirigido por Turi Munthe e pelo Sultão Sooud Al Qassemi, e com a direção geral de Shumon Basar, o fórum debateu como as tecnologias vêm transformando não apenas a forma como trabalhamos, mas também como pensamos, interatuamos, aprendemos e criamos.
Al Qassemi e Munthe buscaram descrever o impacto da tecnologia na arte em mais de 30 apresentações, com a participação de 50 pessoas de todas as partes do mundo. Como Omar Kholeif, curador da Whitechapel Gallery, de Londres, que falou sobre a arte depois da internet, analisou como os artistas trabalham com ela, propondo a possibilidade de encontrar no mundo virtual um meio para o artista se desfazer das estruturas formais e fomentar outro tipo de expressão artística.

Já o urbanista e pesquisador Ayssar Arida e Amar Bakshi, fundador do Shared_Studios, um coletivo de arte, design e tecnologia, entre outros, debateram sobre as cidades inteligentes. Dubai se propôs à meta de ser a cidade mais inteligente para o ano de 2020, quando tudo deverá estar on-line, de eletrodomésticos a armários de remédios. Os participantes do painel questionaram até que ponto esse tipo de cidade é eficiente para o ser humano e como evitar a homogeneização das sociedades, o controle e a permanente vigilância. Qual é o equilíbrio entre a cultura e a tecnologia?

Uma geração de instituições artísticas, que estão descobrindo como chegar ao vasto público on-line, que talvez nunca conheçam pessoalmente, compartilharam suas experiências no GAF em um diálogo mediado pela curadora do Museu de Arte Contemporânea Garage de Moscou, Kate Fowle. Também participaram a artista Gala Berger, fundadora, em Buenos Aires, do Museu La Ene, cuja coleção ela levou temporariamente para Dubai, em um pen drive; o diretor do Museu Palestino, Jack Persekian, que tenta abarcar seu disperso público por meio de plataformas digitais e associações internacionais, para sua inauguração em 2016; e Gabriel Pérez-Barreiro, curador-chefe da coleção Patricia Phelps de Cisneros, em Nova York e Caracas, que fomenta o diálogo internacional sobre arte na América Latina, tanto a partir de debates on-line quanto em exposições temporárias.  

Importantes organizações tecnológicas, como o Instituto Cultural do Google, que inclui o museu virtual Google Art Project, estão forjando novas formas de se relacionar com as artes via tecnologia. Seu diretor, Laurent Gaveau, questionou se algo originariamente físico pode ser visto comodamente no plano digital. Os sites especializados no mercado da arte também se reuniram para debater sobre a comercialização de obras artísticas na internet. O presidente do aplicativo de venda de obras on-line Artsy, Sebastian Cwilich, o diretor do site de leilões Paddle8, Thomas Galbraith, e o diretor e fundador de ArtTactic, empresa inglesa de estudo e análise do mercado de arte, Anders Petterson, debateram, tendo como mediadora a colunista e especialista do The Art Newspaper, Georgina Adam, acerca das novas tecnologias para a aquisição artística, valores, virtudes e o virtual.

O GAF continua sua expansão e crescimento a partir de alianças. Na edição de 2015, realizou o lançamento de sua associação, por dois anos, com a 89plus, multiplataforma internacional de pesquisas, cofundada por Simon Castets e Hans Ulrich Obrist, que estuda a geração de inovadores nascidos em ou depois de 1989, os pós-internet. Nesta 9ª edição do GAF, foram apresentadas as diretrizes desse projeto colaborativo, o primeiro na região que será na próxima edição da Art Dubai, em 2016.

O debate e os bate-papos durante uma feira de arte são de suma importância, já que proporcionam um ar diferente para um evento meramente comercial. Eles nos explicam por que motivos nós, que estamos ligados ao mercado, estamos fazendo isso, por que optamos por ter uma vida inquieta entre produções artísticas e trocamos nosso dinheiro por obras de arte e cultura. No fórum, ficam em evidência as consequências de nossas participações nesse mundo. As ideias surgem graças ao convite a pensar e questionar. As feiras de arte estão compreendendo que melhores debates representam personalidades da arte de maior peso e mais público.

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