Rostos, mãos, mulheres e homens se misturam ao barro e com grande sabedoria e beleza conseguem esculpir a terra e dela extrair estatuetas, figuras que povoam seu imaginário, contam sua história e muitas vezes passam despercebidas. São os habitantes do Vale do Jequitinhonha, situado no nordeste de Minas Gerais, e formado por 51 municípios. É o relato dessas pessoas que foi captado pelo fotógrafo Maurício Nahas, em imagens exibidas pela primeira vez na exposição Do Pó da Terra no Museu Afro-Brasil e posteriormente reunidas no livro homônimo. Uma história delicada que mostra detalhes, valoriza rostos e torna visíveis os que ficam, na maioria das vezes, invisíveis aos olhos de muitos. Mas o livro é apenas parte de um projeto idealizado pelo agente fotográfico e produtor cultural Fernando Machado, da Notorius Films: “Esta ideia, na verdade, começou há 15 anos. Achava que era importante valorizar um trabalho que poucos conheciam ou tinham acesso”, comenta. “Queria contar as histórias dessas pessoas que habitam uma região mais conhecida por sua extrema pobreza.”
A ideia primeira era a de fazer um filme, mas o projeto foi crescendo, a pesquisadora Eli Biondo percorreu o Vale recolhendo histórias e “quando voltou com o resultado das pesquisas ficou claro que os ceramistas seriam a temática principal”. Aos poucos, a equipe foi se montando: juntaram-se Fernando, Eli, Maurício Nahas, que dirigiu o filme, e Rodrigo Carvalho, que foi o diretor de fotografia. O roteiro ficou por conta de Di Moretti e a trilha sonora sob a responsabilidade de César Brandão.
Em 2003, mais de 3.300 quilômetros foram percorridos entre São Paulo e o Vale num trajeto por ar e terra. Cidades como Santana do Araçuaí, Minas Novas, Coqueiro do Campo, Turmalina, Itaboim, Capelinha, Itinga e Padre Paraíso foram visitadas. As filmagens duraram 20 dias e o longa será lançado no final do primeiro semestre de 2016. O material ficou tão rico que Machado e Nahas resolveram fazer um livro e voltaram ao local só para fazer as fotos. Dessa vez a textura das formas, dos volumes e das sombras foi a estética escolhida por Nahas, que fotografou em preto e branco. Ao grupo se juntaram Diógenes Moura, responsável pelo projeto editorial, e Emanoel Araújo, curador do Museu Afro-Brasil, onde as imagens foram apresentadas pela primeira vez: “São lavradores e artistas que se amenizam na criação de belas esculturas policromadas com leves tons de argila, um pouco de marrom ou um pouco de vermelho-ocre, às vezes com os brancos da alvaidade”, escreve Araújo.
O resultado é uma narrativa humanista: “Imagens que ultrapassam a simples perspectiva da fotografia documental porque revelam vidas inteiras, sozinhas ou em grupos, retratos calados, gritos aos cantos, sombras nas esquinas interiores de cada moradia, todas tão simples e sofisticadas ao mesmo tempo”, relata Moura. Os moradores do Vale do Jequitinhonha são agora pessoas, orgulhosas de seu trabalho, e imortalizadas no livro e no filme. Cada personagem tem agora na sua casa, além de seus fantásticos trabalhos, uma publicação que narra sua histórias.
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