Não seria totalmente equivocado chamar Luzescrita – de Arnaldo Antunes, Walter Silveira e Fernando Laszlo – de uma exposição de “poesia concreta” ou de “poesia visual”, para usar definições bastante difundidas. De fato, ali estão expostos trabalhos em que o resultado decorre tanto do conteúdo do texto quanto do modo como está estruturado no espaço, revelando uma ligação direta das obras com os tipos de poesia citados. Mas resumir a mostra a isso seria, aí sim, bastante simplista. Pois, ao utilizar a luz como ponto central, ao misturar videoarte, fotografia e instalações, Luzescrita revela-se híbrida, e não se encaixa em uma definição fechada.
E essa é a graça, segundo Daniel Rangel, curador da mostra que chega à Caixa Cultural Brasília, após percorrer outras capitais do País. “Eles bebem na poesia concreta, mas vão para outros campos”, diz ele. A ideia do projeto surgiu em 2004, quando os três artistas começaram a pensar modos de “escrever com luz” pequenas poesias de Arnaldo Antunes e Walter Silveira. Para isso, utilizaram fogo, lâmpadas, néons e sinalizadores, além de diferentes superfícies e objetos. Os registros fotográficos desses escritos, feitos por Laszlo, seriam as obras finais, e o resultado sairia em livro, não em exposição.
Foi do contato dos artistas com Rangel, em 2009, que surgiu a ideia de expandir o projeto, que acabou se tornando a atual mostra. “Para fazer cada foto, eles constroem uma imagem, cuidadosamente. Não é aquela coisa da foto imediata. E percebemos que os objetos e as ações eram tão ricos quanto as fotos, ou até mais”, diz o curador. Assim, o trabalho virou a exposição, dividida em duas salas, de modo que tanto as fotos finais quantos os processos – a transformação das palavras em imagem – pudessem ser revelados.
Na primeira sala, clara e de paredes brancas, as fotos apresentam ao visitante as pequenas poesias, concisas e diretas, quase “haicais brasileiros”. Segundo Rangel: “Ali, você já fica um tanto intrigado com aquela visualidade meio high-tech. Será que foi feito com computador? Será que não?”. A segunda sala, escura, apresenta aquilo que foi fotografado, entre objetos, instalações, luzes, metais, vídeos e assim por diante. “E aí você identifica o que viu antes. E quando volta para as fotos, já é com um outro olhar, pensando em como cada foto foi feita, com que materiais. Porque, na verdade, é tudo muito low-tech.”
De 2010, quando houve a primeira exposição, até agora, a cada montagem novos trabalhos são incluídos, já que o trio segue produzindo. Em Brasília, são cerca de 40 obras, algumas delas já concebidas em processo um pouco diferente. “Chegou um ponto em que, às vezes, eles pensam primeiro no processo, na imagem, e depois na poesia. Antes, os poemas influenciavam o processo, agora também acontece o oposto”, explica Rangel.
Serviço – Luzescrita
Até 6 de julho. Grátis
Caixa Cultural Brasília – Quadra 4, lotes 3 e 4 – (61) 3206-9448
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