Miami segue firme em seu caminho de se tornar, definitivamente, uma referência para a cena artística latino-americana. O recém-inaugurado Pérez Art Museum Miami, PAMM, que abriu suas portas com mostra retrospectiva da brasileira Beatriz Milhazes, é um indicativo de que esse movimento começa a tomar forma sólida. Beatriz Milhazes: Jardim Botânico reuniu 40 grandes pinturas, algumas inéditas, colagens e serigra- fias, obras que abrangem os últimos 25 anos da carreira da artista.
É verdade que a cidade de Houston se mantém em posição de destaque. O Museum of Fine Artes ainda é o maior polo de difusão de arte latino-americana nos Estados Unidos e, recentemente, começou a se dedicar também à arte brasileira – o museu abriga a coleção de arte concreta brasileira de Adolpho Leirner há quase dez anos, quando o acervo foi vendido à instituição, causando burburinho entre curadores e especialistas. No entanto, o fenômeno Miami não se explica apenas com o crescimento qualitativo e quantita- tivo da arte produzida nos países mais ao sul dos Estados Unidos. A economia americana voltou a crescer, e a comunidade hispânica tem sido uma das alavancas desse processo.
O PAMM, que substitui o Miami Art Museum, surge nesse contexto pelas mãos do megaempresário cubano-americano Jorge M. Pérez, figura mar- cante do mercado imobiliário na cidade balneária. A impressionante arquitetura do PAMM de certa forma realçou o mito de exotismo que reverbera da pintura de Beatriz Milhazes. Grandes galerias com janelas do chão ao teto, com vista para Bis- cayne Bay, são o exemplo mais proeminente da magnitude do espaço. O projeto leva a assinatura dos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, arquitetos conhecidos pela criação de grandes espaços de arte – Tate Modern, em Londres; Young Museum, em São Francisco (EUA); e Parrish Art Museum, em Nova York.
Essa busca de Miami por uma nova identidade cultural começou há mais de uma década, com a Art Basel Miami Beach. Irmã caçula da Art Basel, realizada há 44 anos na Suíça, a versão norte- -americana, apesar de centrada em artes plásticas, oferece uma programação extensa, que inclui cinema, música, arquitetura e design. Como um cometa, carrega ainda uma série de feiras paralelas com galerias emergentes locais e estrangeiras.
Em dezembro do ano passado, mais de 70 mil pessoas visitaram a mostra, que se preserva como a grande catalisadora na transformação do espírito da cidade. O modelo é conhecido: importar o que há de melhor no mundo com as galerias mais poderosas do circuito de arte. Em sua 13a edição, a feira manteve sua composição robusta: 267 galerias de 31 países, represen- tando quatro mil artistas. O Brasil teve presença recorde, com 16 galerias. Esses números mos- tram que é possível concluir que o PAMM faz parte do sistema, estrategicamente planejado para a criação de uma base sólida de um circuito de arte sustentável na cidade litorânea.
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