Por onde passa o Bijari, nada permanece igual

O quartel general do coletivo BijaRi é na Vila Madalena, em São Paulo, mas encontrar seus dez componentes no ateliê é difícil. Eles se deslocam em dupla, trio, quarteto ou até mesmo todos juntos para eventos em Barcelona, Havana, Los Angeles, Colônia, Ushuaia, na Argentina, entre muitos outros. Agora eles se preparam para tomar de assalto, em agosto, os telhados nas casinhas do Cerro, bairro de Medellín, na Colômbia, onde apresentam uma projeção a partir de um teleférico. A performance faz parte do MED 11, evento que vai matar de saudades quem um dia foi à Bienal de Medellín, nos performáticos anos 1980.

Com liberdades individuais, o BijaRi se compõe de jovens arquitetos e artistas plásticos, formado por Eduardo Fernandes, Frederico Ming, Flávio Araújo, Giuliano Scandiuzzi, Gustavo Godoy, Geandre Tomazzoni, Maurício Brandão, Olavo Ekman, Sandro Akel e Rodrigo Araújo. O ateliê é a base de uma espécie de centro de criação de artes visuais, multimídia e arquitetura. A proposta é desenvolver projetos em diversos suportes e tecnologias, como experimentações artísticas, mas sempre com caráter crítico. Com estas ferramentas, eles realizam seus trabalhos e questionam a realidade.
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A bandeira, literal, do grupo é de cor laranja, assim como suas roupas, uma espécie de abre-alas que percorre as cidades, antenada aos desejos de mudanças. Quando o coletivo BijaRi chega, nada fica no lugar; o grito de alerta é múltiplo e atrai um público tão diversificado quanto as desigualdades sociais, foco de suas ações.

O BijaRi já envolveu os paulistanos numa experiência sensorial, dentro do projeto Arquitetura em Movimento, orquestrada por Hans Walter Müller. A imensa estrutura inflável, com dimensões de 18 por 9 metros, mobilizou a população. Rodrigo Araújo diz que num processo inverso da arquitetura que constrói obras sólidas, eles criam trabalhos efêmeros que se orientam pela ruptura de padrões solidificados dentro de cada indivíduo, provocando inquietações. A estrutura inflável que assume diferentes formas foi inspirada na ciberarquitetura de filmes de ficção científica e pelas composições musicais do artista John Cage. Nesta performance, o BijaRi trabalhou um projeto visual, com elementos sonoros e táteis, que resultou único dentro de sua obra.

Para manter a lenha na fogueira, eles usam intervenções urbanas, performances, vídeo, design e web design – tudo que desloque o olhar viciado do espectador, cujo cotidiano repetitivo impede de questionar seu entorno. Numa intervenção em Madri, eles criaram um muro de lixo – resgates dos refugos humanos e industriais -, provocando um diálogo entre o efêmero e o estabelecido, questionando o sistema que transforma tudo e todos em mercadoria.

Um ano após entrar na estrada, o BijaRi já era razoavelmente conhecido quando criou o Carro Verde, que foi apresentado na Áustria e na Bienal de Arquitetura de São Paulo. Na Virada Cultural de São Paulo, em 2010, a obra ecológica ficou na frente do Teatro Municipal por 24 horas. Como os problemas urbanos são permanentes e as obras do BijaRi, efêmeras, quem quiser ver o carro ecológico deve correr. Ele está estacionado em frente ao ateliê do coletivo, na Vila Madalena.

Em Ushuaia, na 1ª Bienal do Fim do Mundo, eles saíram pelas ruas perguntando à população: “Por que lutamos?”. O resultado da performance foi levado para dentro do prédio central da bienal, onde tinham uma sala. Para o coletivo, trazer essas situações para o espaço da exposição é completar o conceito, visto que a experiência vivida nas ruas nem sempre é familiar para as pessoas que visitam esses eventos.

O BijaRi não esgota o repertório porque o panorama da desigualdade social é imenso. Descontentes com algumas situações urbanas e sempre em busca de novas inserções, eles se alinham a outros coletivos brasileiros que atuam ou atuaram nos últimos dez anos. São eles: Artelux e Areal e Torreão, ambos de Porto Alegre; Alpendre, de Fortaleza; Capacete, do Rio de Janeiro; e Linha Imaginária, Contra Filé e Atrocidades Maravilhosas, de São Paulo; entre tantos espalhados pelo Brasil.

Alegres, brincalhões e criativos, para os integrantes do BijaRi não tem tempo ruim; mas o que eles lamentam, como disse Geandre, é que ainda há muita gente que não acredita em coisas novas. Para exemplificar, ele pergunta: “Qual foi o último artista a expor no MASP? No MAM? No MAC, no CCBB? É difícil as instituições se abrirem para este tipo de proposta”.


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