A exposição Portinari e a Poética da Modernidade Brasileira, em cartaz na Galeria Almeida e Dale, em São Paulo, apresenta 35 obras feitas por Candido Portinari (1903-1962) entre 1931 e 1944, período em que o pintor se firmou como um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros.
A escolha do período nada tem de aleatório. Denise Mattar, curadora da mostra, lembra que, em 1931, Portinari havia acabado de voltar de uma temporada de dois anos em Paris, após receber um prêmio da Escola Nacional de Belas Artes (RJ) pelo Retrato de Olegário Mariano, óleo sobre tela de 1928. Ao regressar, foi convidado pelo arquiteto Lúcio Costa para reestruturar a ENBA e participar da Comissão Organizadora do 38o Salão de Belas Artes.
“Portinari havia feito uma imersão e descoberto que a situação era outra na Europa, em termos artísticos. Ele vê os expressionistas, os impressionistas, etc., mas traz apenas quatro telas de lá, e seu trabalho aí ainda é quase clássico”, afirma Denise, ressaltando que desse momento em diante o pintor se consolida como “o” Portinari que conhecemos hoje em dia, a partir de dois caminhos, um criativo, outro institucional.
Além de participar da organização do Salão, Portinari apresentou 17 trabalhos, ao lado de criações de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, entre outros. Denise lembra que, “encantado” com as qualidades modernistas e de artífice do pintor, o escritor Mário de Andrade sugere a ele a ideia de retratar o povo brasileiro, que viria se tornar seu grande tema, e que aparece de modo mais claro nas obras O Flautista (1934) e Domingo no Morro (1935). “Mário dizia com orgulho que havia sido o primeiro a reconhecer o talento de Portinari, de quem virou amigo para o resto da vida”, diz a curadora.
Em 1944, o pintor participou, em Belo Horizonte, da Exposição de Arte Moderna, considerada a última grande mostra do modernismo brasileiro. Organizada por Juscelino Kubitschek, então prefeito da capital mineira, a exposição abrigou trabalhos de artistas da Semana de 22 e do Grupo Santa Helena, entre outros. Portinari foi considerado a estrela da mostra, com sua tela O Olho (1941), também conhecida como O Galo, que dividiu opiniões, e que também está presente na Almeida e Dale.
Denise conta que fez nada menos que dez listas de obras até chegar à seleção final, exposta agora na galeria paulistana. “Foi um verdadeiro safári”, brinca a curadora, que fez seu garimpo em coleções de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Para o óleo sobre tela de 1931, que traz a figura do maestro Oscar Lorenzo Fernández, por exemplo, a curadora teve de levantar a autorização com várias pessoas da extensa família do retratado, no Rio.
Além de O Olho, Denise destaca telas marcadas pelo lirismo de Portinari, como Mulher e Criança (1936) e As Moças de Arcozelo (1940), obra que ilustrou a capa do catálogo da exposição Portinari of Brazil, realizada no MoMA, em 1940. E ainda as criações em que o pintor fazia uma denúncia ou crítica social, como Jangada e Carcaça e Enterro, também de 1940, dois retratos do drama da seca no Nordeste.
Serviço – Portinari e a Poética da Modernidade Brasileira
Até 15 de agosto
Galeria Almeida e Dale
Rua Caconde, 152 – Jardim Paulista – São Paulo/SP
11 3887.7130 – almeidaedale.com.br
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