Precisão e erro

Pablo Siquier utilizou tecnologia e carvão para criar os desenhos que estão em cartaz na Baró Galeria, em São Paulo, sob o título Contratura. A individual do artista argentino é composta por três painéis em grande escala, produzidos exclusivamente para o espaço, ocupando as paredes com 20 m do galpão de exposições. “De longe é high tech, de perto, artesanal”, define o curador Adriano Casanova. 

Para os desenhos, Siquier utilizou um programa de computador vetorial de três dimensões, o formZ. Com mais três assistentes, os desenhos foram projetados nas paredes, Siquier traçou as linhas a lápis e depois a carvão sobre o muro. Na primeira parte do processo, os artistas tiveram de trabalhar durante a noite, pois as projeções não eram visíveis na claridade.

“Os procedimentos habituais de apresentação de artefatos digitais, como projeções, não me satisfaziam. Então, surgiu a ideia de fazer as obras em carvão, material que quebra, mancha, não desenha linhas retas. Todos esses erros me pareceram apropriados para expressar este momento de minha produção”, explica Siquier.

Para Casanova, a mostra combina a precisão tecnológica do desenho computadorizado com o primitivismo do traço manual. O curador destaca que a escala gigantesca das obras em Contratura transforma a exposição em uma instalação e conta que muitos visitantes passam horas observando as obras: “As pessoas se deitam no chão, se aproximam, se afastam. A visita se torna um momento de contemplação’’. De fato, as versões reduzidas, em nanquim, de dois dos desenhos de Siquier estão disponíveis no acervo da Baró Galeria e não impressionam tanto quantos as obras sobre os muros.

Siquier tem o intuito de discutir o espaço urbano e a situação das cidades em suas obras. Ele explica que os desenhos sobre os muros da Baró são o reflexo da informação que circula diariamente nas grandes cidades da América Latina. “Nenhum de nós conhece todas as linhas de ônibus”, brinca. “Não podemos absorver tanta informação. Temos de fazer uma síntese disso para sobreviver.”

Segundo o curador da mostra, em Contratura o argentino faz uma leitura das camadas arquitetônicas da cidade de São Paulo. Esta não é a primeira individual de Siquier, na Baró Galeria. Em 2009, ele expôs seis pinturas em acrílico sobre tela. Além disso, o artista participou da 26^a Bienal de São Paulo, das duas primeiras bienais do Mercosul, de diversas mostras coletivas pelo mundo entre artistas contemporâneos argentinos e apresentou uma exposição individual no Museu Reina Sofia, na Espanha.

Contratura – Pablo Siquier