GIACOMETTI O crítico inglês David Sylvester (1924-2001) conheceu Giacometti em Paris, no final da Segunda Guerra. Além da admiração inicial, Sylvester se tornou secretário e amigo do artista até sua morte, em 1966. Escrito e reescrito ao longo de 40 anos, o livro Um Olhar Sobre Giacometti reúne estudos sobre o percurso da obra e vida de um dos nomes emblemáticos da arte do século 20, identificado pelo filósofo Jean-Paul Sartre ao existencialismo.
O livro de Sylvester foi editado com folhas de cores diferentes, para indicar os momentos da trajetória de Giacometti que são abordados e inclui longas conversas entre o crítico e o artista. Na avaliação de Sylvester: “O que importa não é o fato de a linguagem da escultura ter sido ampliada e, sim, que ao usar proporções, cujos efeitos ultrapassam os padrões normais da escultura, Giacometti cria uma pungente e misteriosa imagem de cabeças e figuras humanas que, apesar de sua fragilidade, dominam o espaço em que parecem se perder”.
Também acaba de ser publicada em português a primeira monografia sobre Giacometti, acompanhando a grande retrospectiva de sua obra na América Latina, na Pinacoteca de São Paulo e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O livro tem organização e textos de Véronique Wiesinger, curadora da exposição e presidente da Fundação Alberto et Annette Giacometti. Além de reproduções das principais fases do artista suíço, a obra traz comentários esclarecedores sobre sua pesquisa estética vigorosa.
TUNGA Mais que uma coletânea de poemas, ou que um livro de ilustrações, Ethers celebra o encontro entre as linguagens escrita e visual para capturar o instante mágico do erotismo, da plasticidade na dança dos corpos que se atraem e se tocam com paixão, em um frenesi de palavras e gestos. Os desenhos de Tunga e a poesia de Esther Faingold estabelecem um diálogo que transcende a mera proximidade das páginas, por meio de transparências, atritos e sobreposições entre palavras e traços.
A edição artesanal, costurada à mão com linha aparente na lombada e sobrecapa solta, manchada intencionalmente com a tinta vermelha da capa, prepara o leitor para um contato de sedução entre os olhos e as mãos. Trata-se de um livro que apela para os recursos básicos da sensualidade, abrindo-se à visão e ao toque com muita elegância e alguma ousadia. As imagens são fortes e nos remetem a uma orgia dionisíaca, em que corpos e objetos se embaralham como na encenação de um rito de raízes ancestrais, mitológicas.
O uso da tinta vermelha de papel-carbono provoca o decalque das imagens e dos textos que resulta em um jogo de espelhos – as páginas literalmente roçam umas nas outras e deixam marcas, que podem ser como as de batom ou mesmo cicatrizes tatuadas na corpo. Como nos versos de Esther, que falam de uma “Oculta ilha nos olhos/profecias da pele/oceano nas veias”. Entre tecidos, como ranhuras na folha em branco, textos e imagens são como o sangue pulsando no ritmo do desejo, ou, metaforicamente, da “Lua no cio”.
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