Quando decidiram que o foco principal da 10a Bienal de Arquitetura de São Paulo seria a cidade, discutida através de questões como mobilidade urbana e uso do espaço público, os curadores da edição não podiam imaginar que, poucos meses antes da abertura do evento, essas mesmas questões pautariam uma série de manifestações nas grandes cidades do Brasil. Quando idealizaram uma Bienal espalhada pela cidade, em que todos os pontos fossem interligados por transporte público, não imaginavam que seria exatamente a questão da mobilidade o estopim para todos aqueles protestos de junho e julho. O que os curadores já sabiam, no entanto, era da urgência de politizar o debate sobre as cidades, com uma Bienal que ocupasse São Paulo, saísse apenas do campo teórico e alcançasse um público mais amplo – não só de arquitetos e especialistas. “Em grande medida, o que as manifestações traziam à tona era algo que a Bienal já estava pautando; da experiência da cidade, da cidade em rede e da mobilidade ligada ao transporte público”, afirma o curador Guilherme Wisnik.
Se o caminho escolhido se mostrou acertado, os acontecimentos recentes também deram novos rumos para o evento. O próprio título, divulgado anteriormente como Cidades: Modos de Fazer, Modos de Usar, passou a ser Cidades: Modos de Fazer, Modos de Usar, Modos de Agir. “Os moradores estão entendendo que a cidade não é apenas um espaço amorfo que está lá, pelo qual você passa e do qual é vítima. Estão tendo uma posição mais ativa, e reconhecendo aspectos positivos”, explica Wisnik. É com esse nome, portanto, que a 10a Bienal de Arquitetura acontecerá entre os dias 12 de outubro e 1o de dezembro na capital, com sede principal no Centro Cultural São Paulo e exposições no MASP, no Centro Maria Antônia, no Museu da Casa Brasileira, no Sesc Pompeia, na Praça Victor Civita, no Teatro Oficina, no Centro de Formação Cidade Tiradentes e em um apartamento ao lado do Minhocão. Com tantos pontos, para ver toda a Bienal o visitante precisa “usar” a cidade, se locomover por ela: “Nos pareceu muito fraco discutir a cidade contemporânea apenas de uma forma teórica”, diz o curador. “É preciso promover uma experiência.”
Entre os destaques da edição estão a mostra O Espetáculo do Crescimento, que coloca em perspectiva o crescimento das cidades médias brasileiras; a exposição do projeto do High Line, antiga linha férrea que virou parque público em Nova York; homenagens aos arquitetos Sérgio Bernardes e Eduardo Longo; e uma mostra no MASP que relaciona obras de arquitetos e artistas, entre eles Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas, Cildo Meireles e Hélio Oiticica. Outro ponto alto, segundo Wisnik, é a apresentação de dois projetos fundamentais para São Paulo, um mais antigo e um contemporâneo: o Edifício Copan (Oscar Niemeyer), cartão-postal do centro da cidade; e a recém-inaugurada Praça das Artes (Brasil Arquitetura), que na opinião de Wisnik sinaliza o retorno aos grandes projetos inteligentes na cidade, que não eram vistos desde o Sesc Pompeia e o CCSP (ambos de 1982). “Ainda é algo pontual, mas permite ser otimista. A praça é um sinal positivo de retomada nessa direção no lado dos modos de fazer. Do lado dos modos de usar é que a gente tem mais razões para ser otimista. Porque, de poucos anos para cá, São Paulo se tornou ativa do ponto de vista do uso cidadão, com a Virada Cultural, o Minhocão no domingo, o Festival Baixo Centro, a praça Roosevelt, etc.” E o curador conclui: “A partir de agora, os projetos, os modos de fazer, vão ter de aprender muito com os modos de usar”.
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