Fato é que nunca se falou tanto sobre fotografia, nunca se discutiu de maneira tão intensa sua participação em feiras, festivais, galerias. Como se de repente ela fosse reinventada. Certo também que a disponibilidade de uma câmera em todo lugar e em qualquer momento fez com que as discussões se tornassem mais diversificadas e interessantes.
Desta forma, o Instituto Moreira Salles (IMS), já conhecido por seus cadernos de literatura, de fotografia e pela revista Serrote, lançou em outubro a ZUM, sua revista semestral de fotografia. Uma publicação que, além de vista, deve ser muito bem lida. Uma revista que pretende se colocar como um vetor de debate da fotografia em relação às outras formas de expressão, como literatura, cinema e artes plásticas. Em sua primeira edição mesclam-se imagens de Jeff Wall, Jorge Bodanzky, Robert Frank, Julio Bittencourt, Henri Cartier-Bresson, entre outros.
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Para ajudar a pensar este momento, o IMS trouxe ao Brasil o curador americano Peter Galassi que, durante 30 anos, foi o curador de fotografia do The Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York, e acaba de deixar o museu em julho deste ano. Em dois encontros, um no Rio e outro em São Paulo, Galassi apresentou alguns artistas contemporâneos que expôs no museu americano. O curador não é unanimidade entre os historiadores e pesquisadores da fotografia. Muitas vezes deixa de lado a perspectiva histórica da fotografia, faz muita referência às artes plásticas e suas respostas invariavelmente são evasivas. No Brasil, surpreendeu ao dizer que pouco ou nada conhecia da fotografia brasileira. Resposta que repetiu à ARTE!Brasileiros, em entrevista feita diretamente de Nova York. Abaixo, alguns trechos principais da conversa.
ARTE!Brasileiros: Parece que a fotografia tem dominado o mercado da arte contemporânea. Como o senhor analisa este fenômeno?
PETER GALASSI: Não tenho certeza se é verdade que a fotografia domina o mercado. Talvez há cerca de 20 anos, quando grandes fotografias coloridas invadiram o mercado da arte contemporânea, elas estivessem em evidência. Mas agora acho que, além das fotografias, temos projeções de vídeo. Hoje os materiais e as técnicas de arte contemporânea são extremamente variados.
AB: Talvez por isso se fale tanto em banalização da imagem, de um vazio criativo da estética fotográfica. O que o senhor pensa disso? O que os fotógrafos estão produzindo? E os artistas que trabalham com fotografia, o que procuram?
P.G.: Desde que a fotografia e reproduções fotográficas começaram a proliferar na cultura popular, há mais de um século, temos vivido em um mar de imagens que uma pessoa não consegue absorver. Por isso, muitas vezes se tem falado, ou denunciado, um vazio criativo. Mas os artistas nunca deixaram de recorrer ao imaginário popular como uma fonte de vitalidade e energia criativa. Inovações são regularmente imitadas pelo mundo pop. E tudo fica bastante confuso. Talvez algumas pessoas prefiram algo mais simples, mas acho que esta troca, esta confusão, é bastante animada e produtiva.
AB: O senhor gosta do que vê nas exposições atuais? Que tipo de fotografia o atrai?
P.G.: Como todo mundo, gosto de algumas coisas e de outras não. Não tenho um interesse particular, me interessam todos os tipos de fotografias e trabalhos fotográficos.
AB: Por que (exceção feita aos Estados Unidos) parece tão difícil criar um mercado de arte para a fotografia?
P.G.: Nunca entendi os mercados de arte. Mas permita-me notar que a fotografia prosperou artisticamente da primeira Guerra Mundial até 1970, com quase nenhum apoio de colecionadores ou de aparatos oficiais da cultura.
AB: Neste cenário, como entra a fotografia brasileira?
P.G.: Não a conheço o suficiente para poder analisá-la!
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