Sou um apaixonado?por revistas. Tenho uma coleção das mais diversas. Do começo do século passado gosto da Kosmos, da Ilustração Brasileira, da Frou Frou, Brazil Magazine, entre outras revistas ilustradas que buscavam mostrar o Brasil do ponto de vista político, social e cultural. Depois disso, guardo alguns exemplares da revista O Cruzeiro, a coleção da Revista S. Paulo, os primeiros cinco anos da revista Senhor e a coleção da Realidade. Também tenho alguns exemplares da revista Bondinho. Além disso, as revistas específicas sobre fotografia.
Mas confesso: a Revista Nacional me deixou perplexo. Passei mal! Não só pela qualidade da apresentação, da direção de arte, dos textos e, claro, das fotografias. O que me estarreceu foi a coragem de produzir na mesma edição um volume tão surpreendente de informação, em tese comercialmente inviável. Mas a parceria de J. R. Duran com Gráficos Burti mostra uma excelência de trabalho conjunto raro e, até mesmo, inédito em nosso País. E é isso que nos deixa cada vez mais otimistas em relação à fotografia.
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São 144 páginas bem impressas no formato 30 X 36,5 cm e papel Novatech 170 g. Contabilizei 99 páginas dedicadas à fotografia, três ao desenho e 32 ao texto, em um fundo branco tão impecável, que impressionam nossa visão e criam instantaneamente uma atmosfera diferenciada. Ou seja, 70% da revista são imagens que deixam em êxtase qualquer mortal apaixonado que tem a oportunidade de percorrê-las livremente. Uma experiência que permite perceber a coexistência harmoniosa entre texto e fotografia, entre mancha gráfica e informação, entre a tradição e o frescor da novidade.
J. R. Duran é um fotógrafo que persegue apaixonadamente seus projetos. A publicação tem uma pegada contemporânea, mas está apoiada em vivências editoriais bem-sucedidas. É fácil constatar que não se trata de uma aventura, e sim projeto de longo prazo, ambicioso, que pretende produzir em dez anos um volume de informação que será síntese da década que se inicia. São iniciativas como essa – a materialidade do trabalho impresso e disseminado – que nos dão ânimo para acreditar que o futuro pode ser diferente do que propaga.
As fotografias selecionadas para esta edição tem as características do trabalho autoral de J. R. Duran. Os retratos concisos em seus planos fechados ou médios atraem nosso olhar e concentram nossa atenção; as mulheres, quase sempre fotografadas com seus segredos e sensualidade, mostram que é inútil sondar o abismo do mistério interior; a documentação do cotidiano indígena tem um tratamento clássico e inspirado; e São Paulo vista do alto ganha ares de metrópole espetacularizada pelo olho educado e sensível do artista.
Enfim, a Revista Nacional promete ser uma experiência editorial que fará história na mídia impressa brasileira. A seleção impecável dos colaboradores, associada às fotografias e à direção de arte de J. R. Duran, e a ousadia gráfica Burti garantem que o desafio da continuidade está assegurado. Um projeto requintado, merecedor de todos os elogios e de todos os vivas.
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