Antonio Dias acaba de ganhar livro que apresenta panorama de sua vida e obra, cuja vasta produção traz inúmeros pontos de ruptura. Nascido em 1944, na Paraíba, Dias adquiriu noções de pintura com o avô e tinha interesse em histórias em quadrinhos, forte manifestação popular que vai aparecer de forma distorcida em sua obra durante um determinado período dos anos 1960. Não só os quadrinhos: componentes cinematográficos, diálogos com o construtivismo e artesãos de papel do Nepal são elementos que se imbricam na produção de um artista que criou capas de discos, desenhos, pinturas, instalações, filmes e outras incontáveis obras. É o que afirmam os críticos Paulo Sérgio Duarte e Achille Bonito Oliva, autores dos textos curatoriais da publicação.
Textos dos curadores dividem espaço com incontáveis imagens, que têm como esqueleto uma cronologia da vida do artista feita por Ileana Pradilha. Importante para dar ao leitor uma noção da trajetória do artista. Em seu texto, no entanto, Paulo Sérgio Duarte evita seguir um eixo cronológico de análise: para ele, isso esvaziaria o significado da obra. Ele elege como ponto de partida para investigação das ideias presentes na obra a viagem que o artista fez ao Nepal em 1977: viagem esta na qual ele aprendeu com os artesãos locais a fabricar papel artesanal. Longe de ser um detalhe, o papel passa a ser a partir dali um elemento ativo em seu trabalho. Após explicar a importância dessa ruptura na obra de Dias, Paulo Sérgio analisa duas obras muito mais recentes: Refém: John Wayne Encontra Harun Al-Hashid, de 2007, e Auslander (O Estrangeiro), de 1993. A partir destes dois trabalhos o crítico tece relações com o percurso do artista como um todo e também identifica questões que permeiam os trabalhos, como o tempo e o movimento, além de pontuar importantes relações com outros suportes e linguagens: como o cinema e a política.
Achille Bonito Oliva, por sua vez, analisa a parte linguística da obra de Dias e a coloca dentro de um contexto histórico e social mais amplo, sem necessariamente se ater a um trabalho específico, mas olhando para o conjunto de criações. Para Oliva, a obra de Antonio Dias é um lugar de confluência, em que “pensar e agir, projeto e realização se entrelaçam (…) para fundar um sistema produtivo, não apenas de formas, mas também de contextos sociais”.
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