Remake do grupo ZERO mostra vanguarda do pós-guerra

Günther Uecker, Lichtregen (Light-Rain), 1966, reconstrução/ Foto: Guilherme Dias
Günther Uecker, Lichtregen (Light-Rain), 1966, reconstrução/ Foto: Guilherme Dias

O ZERO não foi somente um grupo artístico revolucionário, mas também, divertidamente, um encontro de jovens com obras interativas, desafiadoras, e novos conceitos de arte que mudaram o cenário do pós-Guerra. Os artistas do ZERO provocaram uma ruptura com os movimentos vigentes da época – o expressionismo abstrato europeu de pintura gestual –, ao colocar em suas obras vibração, luz, movimento mecânico e deslocamentos rítmicos. Potencializaram experimentos que transformaram o ZERO em um dos mais conceituados movimentos de vanguarda do século XX.

Toda a mística que envolve o grupo atraiu Heike van den Valentyn, historiadora alemã de Colônia, que assina a curadoria da mostra itinerante que já esteve em Curitiba, Porto Alegre (onde ela conversou com a ARTE!Brasileiros) e agora se apresenta na Pinacoteca do Estado de São Paulo. A coletiva é um resumo de obras originais e remontagem de uma das mais importantes vanguardas internacionais e que compõe a temporada Alemanha + Brasil 2013-2014, com a parceria do Goethe-Institut da Alemanha e apoio do Ministério NRW e Pro Helvetia.

Mas o que ainda é relevante no movimento e o que a fez expô-lo nos dias de hoje? “Comecei a estudá-lo há algum tempo e descobri que há várias conexões com a arte contemporânea. A Chuva de Luz, de Günther Uecker, por exemplo, se assemelha a uma instalação minimalista, a atualidade conceitual e a formal desta obra impressionam”.
Heike escolheu 24 artistas europeus e latino-americanos para esboçar um paralelo entre suas obras, como as de Yves Klein, Lucio Fontana, Günther Uecker, Otto Piene, Almir Mavignier, Abraham Palatnik, Jesús Rafael Soto, Gyula Kosice. “Os artistas do ZERO atuaram mais como uma plataforma aberta do que um grupo.”

O ZERO nasceu em Düsseldorf, em 1958, no ateliê de Otto Piene, localizado na arborizada Gladbacher Strasser, com Mack e Günther Uecker e suas Exposições Noturnas. As “performances” só duravam uma noite e para as quais eles só convidavam amigos e artistas com ideias similares às deles. Com o tempo, o grupo cresceu e transcendeu as fronteiras, atraindo artistas de outros países. Assim, nasceram núcleos na Itália, França, Países Baixos e Japão. “Nessa pesquisa, me interessei muito pelo trabalho dos brasileiros Almir Mavignier e Palatnik, dos venezuelanos Rafael Soto e Gego, e do argentino Lucio Fontana. O europeu ainda não conhece o modernismo na América do Sul, onde há muitos bons artistas para se estudar.” Heike chegou ao Brasil, onde centrou sua pesquisa nos anos 1960, que ela não conhecia muito: “Tentei me aprofundar o máximo possível, apesar do pouco tempo. Não queria só transpor as obras para a exposição, precisava fazer conexões entre elas”. Um dos pontos bem resolvidos da mostra é a interface dos artistas estrangeiros com a produção dos brasileiros Hércules Barsotti, Lygia Clark e Abraham Palatnik. Heike lembra que nos anos 1950 e 1960, alguns dos artistas da mostra participaram da Bienal de São Paulo e alguns sul-americanos, da Bienal de Veneza. “Ver os trabalhos deles agora em conjunto modifica tudo. Temos outra leitura e podemos perceber as energias e sentir desdobramentos.” Afirma que, mesmo que eles não tenham participado diretamente do ZERO, é possível perceber os fios condutores. Essa é uma rara pesquisa entre a convergência das propostas do ZERO e da arte brasileira de tendência concretista.

A mostra tem o dinamismo natural das exposições que pedem a participação do espectador. Não é por acaso que o ZERO se define, entre outras coisas, como uma zona de não conformismo. Em pontos da mostra, o visitante pode movimentar a imagem ou a estrutura de uma obra por meio de contato. Os espelhos do suíço Christian Megert que compõem uma imensa instalação, conduz o visitante a um universo lúdico, em que o visitante se vê em imagens multiplicadas, multifacetadas e o espaço espelhado o suspende à própria finitude. A instalação Espaço de Luz, de Otto Piene, com plástico, luzes e motor, se movem e criam uma animação eletromecânica.

Um museu, separado de todas as realidades que o circundam, talvez seja um espaço ideal para expor realidades imaginárias do ZERO.

Serviço – ZERO
Pinacoteca do Estado de São Paulo
Praça da Luz, 02 – Luz – 11 3324-1000
De 3 de abril a 15 de junho
De terça a domingo, das 10h às 17h30. Quintas-feiras até as 22h


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