O livro mostra projetos de urbanismo, edificação e obras públicas, reunidas desde 1979 no escritório Brasil Arquitetura, sediado em São Paulo.
Uma escultura de Amilcar de Castro sinaliza a presença brasileira na entrada leste. As cores das tribos Kadiveu, dão cor ao bairro com seus grafismos espontâneos
No capítulo “Requalificação do Bairro Amarelo” é sintetizada uma experiência inédita com a participação direta do escritório Brasil Arquitetura, em Berlim. Como diz Cecilia Rodrigues dos Santos, responsável pelos ensaios e análise de projetos do livro: “A dificuldade para encontrar uma palavra que defina este projeto – que já foi batizado de revitalização, recuperação, recaracterização, remodelação, repaginação e até de reforma – está diretamente relacionada ao fato de não se tratar de um projeto de arquitetura ou urbanismo na forma tradicional” (pág. 52, Cosac Naify, 2005).
“O CONCURSO“
A queda do Muro de Berlim, além de todas as consequências já conhecidas e vividas pelos alemães, abriu no campo da arquitetura uma frente de trabalho de grandes proporções e sui generis: a recuperação dos conjuntos residenciais construídos em concreto pré-fabricado dos anos 60 aos anos 80, marca registrada do comunismo soviético.
Essa arquitetura, ainda que de boa qualidade de construção e de materiais se comparada com as habitações sociais do Brasil, é extremamente pobre, visualmente “feia” e repetitiva ao infinito. É um mar cinzento de edifícios que começa em Berlim e se alastra pela planície central até Moscou, alcançando nesse caminho a Polônia, a antiga Tchecoslováquia, a Hungria etc.
Todos esses países adotaram o mesmo sistema construtivo que espelha a burocracia arquitetônica.
Começando por Berlim, vários arquitetos são chamados, através de convites ou concursos internacionais (como foi o nosso caso), para se debruçar sobre essenovo tema/problema, qual seja: humanizar, recaracterizar, criar unidades
de vizinhança distintas umas das outras, dar personalidade a cada grupamento de habitantes, no sentido de fixar a população e evitar o êxodo.
A escolha do nosso projeto seguiu-se ao debate de três projetos finalistas (com representantes da população, técnicos e engenheiros responsáveis pela construção do bairro, além de representantes do Senado berlinense) e foi definida por um corpo de jurados internacional.
Procuramos dar caráter e identidade própria àquele pedaço de Berlim através de um conceito unificador, aglutinando elementos da arquitetura latino-americana e, mais especificamente, brasileira.
O grande desafio para os arquitetos, a nosso ver, é introduzir novos elementos, criar novos contextos, trazer a riqueza cultural e espacial sem violentar aquilo que representou o esforço de muitos para resolver um dos mais graves problemas da humanidade: a falta de moradia. Encarar a questão com decisão e delicadeza foi a nossa arma.“ Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz
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