Rufino e Warhol em mostra inédita

O artista paraibano José Rufino inaugurou no dia 24 de abril de 2010 a exposição Blots & Figments, com curadoria de Jessica Gogan, no Museu Andy Warhol, em Pittsburgh, cidade natal deste expoente da pop art norte-americana. Na mostra de Rufino, três salas e uma área de passagem estão ocupadas por diversos trabalhos que dialogam diretamente com a produção de Warhol. Mais especificamente com imagens cuja lógica se relaciona aos testes psicológicos criados pelo médico suíço Hermann Rorschach, onde manchas de tinta, monotipias, elaboradas a partir da dobra centralizada e simétrica dos papéis, são interpretadas. Rufino, então, quis ver o Warhol dos borrões expressivos, dramáticos, buscando uma face pouco revelada da pop art.

Na exposição, as obras de José Rufino, feitas especialmente para este projeto, ladeiam as pinturas de Andy Warhol. Em uma das salas, estão duas grandes pinturas do artista americano, que apresentam manchas de Rorschach. Ali, Rufino criou um tríptico, feito sobre jornais antigos da cidade de Pittsburgh e impressões de partes dessas pinturas. Em outro trabalho, Myriorama, o artista se apropria de várias imagens de Pittsburgh e as coloca em lenta projeção, numa técnica usada nos primórdios do cinema. Além disso, Rufino interpretou imagens de Warhol que de alguma maneira tivessem referências aproximadas aos interesses de sua criação, partindo de documentos, cadernos escolares, jornais. Tal diálogo potencializou imensamente a troca entre duas criações distintas no tempo e no espaço, mas que revelam surpreendente proximidade.
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As obras de José Rufino utilizam, desde os anos 1990, a prática subversiva de criar intervenções sobre imagens, objetos e, principalmente, documentos originais. A pop art de Andy Warhol caracterizou-se pelo namoro com a cultura de massa, os ícones da publicidade, a estética urbana norte-americana. Aqui, são denunciadas as mazelas do processo civilizador que procura formalizar hábitos, boas maneiras, regras de comportamento, deixando marginalizados os que subvertem tais atitudes e banalizando a morte que, neste sentido, funciona como blot, um borrão entre tantas outras notícias.

Dor, morte, violência, falência das memórias, são assuntos que podemos elencar, entre outros, nas apropriações de Rufino estimuladas pelas obras pop de Warhol. Em seis reimpressões da clássica imagem de cadeira elétrica, Rufino sobrepõe manchas duplicadas, como na técnica de psicodiagnóstico. Aqui, se escolhe a face pop da denúncia, como nas séries de desastres coloridos em que os jornais fornecem imagens pungentes pela tragédia anunciada.

Esta exposição, partindo de imagens e materialidades corriqueiras na produção de José Rufino, como crânios, folhas de arquivo, páginas pautadas, vem ao encontro dos interesses do paraibano, justamente por signos circulares. Aqui percebemos que estes signos revivem, a partir das intervenções do brasileiro José Rufino, que retoma imagens perdidas nos arquivos de Andy Warhol, nas gavetas, nas reservas técnicas, avivando-as na memória do espectador, como se as revelasse pela primeira vez.


Marcelo Campos Prof. adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.



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