Sharjah reflete sobre atualidade com exposição descentralizada

Sob um clima desértico, na cidade mais tradicional dos Emirados Árabes Unidos, acontece a 12ª Bienal de Sharjah, o evento artístico de maior prestígio do Oriente Médio. Para esta edição, a curadora Eungie Joo, em conjunto com a Fundação de Arte de Sharjah, dirigida por Sheikha Hoor Al Qasimi, decidiu descentralizar a exposição distribuindo-a em vários pontos da cidade, como prédios históricos restaurados, museus, um armazém portuário, uma antiga fábrica de gelo e até mesmo um mercado de animais. A Bienal se intitula O Passado, o Presente, o Possível, que não reflete exatamente um tema, mas se concentra no presente e nos remete ao passado para refletir sobre a atualidade.

O artista libanês Rayyane Tabet nos convida a pensar sobre o passado por meio de sua obra Rolled Engraved Steel, uma escultura que reproduz um oleoduto construído em 1946 para levar petróleo da Arábia Saudita ao Líbano, atravessando Síria e Jordânia, e que em 1967 também passava pelas Colinas de Golã (atualmente em Israel). Depois dos conflitos políticos de 1983 o oleoduto permaneceu instalado, embora sem uso. Hoje em dia o único objeto físico que cruza os cinco países em uma região muito consciente de suas fronteiras.

Em sua primeira visita a Sharjah, o artista mexicano Damián Ortega ficou intrigado com as paredes que ficam na região de Al Khan, feitas com coral fossilizado, um material que funciona como um filtro térmico, que permite a ventilação e refrigeração naturais. No trabalho Talking Wall, o artista construiu três estruturas curvadas, com orifícios que conectam ambos lados das paredes. Ortega usou o conceito de porosidade para repensar as relações fronteiriças.

A brasileira Cinthia Marcelle montou a obra At the Risk of the Real em uma antiga casa, na área histórica de Sharjah. Uma estrutura de três metros de altura, formada por postes e vigas de madeira, que sustentam um sistema de peneiras. A artista pede a trabalhadores locais que realizem suas tarefas rotineiras de carregar areia sobre esta estrutura. Ao adentrarmos a obra, e tentarmos olhar a estrutura de peneiras no alto, a filtragem da areia nos impede de abrir nossos olhos. Cinthia apresentar, de uma maneira muito sutil, a problemática local das condições de trabalho e a questão do privilégio do avanço econômico sobre todas as coisas.

Com a seleção do acervo da princesa Fahrelnissa Zeid (Turquia 1901 – Jordânia 1991), a Bienal de Sharjah realiza uma retrospectiva do desenvolvimento da arte da região, a partir da trajetória de uma de seus representantes mais importantes. As imensas abstrações conversam com as esculturas de resina transparente com ossos e com a figuração dos retratos de família que a artista realizou no fim de sua carreira.

 O argentino Adrián Villar Rojas nos conduz em uma viagem de uma hora e meia à costa leste do país, para conhecer sua criação Planetário, um conjunto de colunas que aglutinam diferentes materiais orgânicos e inorgânicos, e que se erguem dentro de uma antiga fábrica de gelo na cidade Kalba, onde o artista utilizou 2400 metros quadrados para apresentar sua pesquisa sobre a interferência do ser humano sobre a natureza.

Veja abaixo algumas das obras em exibição na 12ª Bienal de Sharjah:

Serviço – 12ª Bienal de Sharjah

Até 5 de junho

www.sharjahart.org/biennial/sharjah-biennial-12


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