Sociedade e mídia no foco de Antoni Muntadas

Para ele nada é casual. Tudo pode começar por desvendar uma curiosidade, segue num longo e meticuloso processo de pesquisa, o suporte define-se no decorrer dos trabalhos e o resultado ele não chama de obra. Prefere a denominação projeto, como no cinema e na arquitetura, que, igualmente, demandam investigações e realizam-se em etapas. Esse é Antoni Muntadas, um dos mais importantes artistas contemporâneos da Espanha, que expõe com certa regularidade no Brasil e está apresentando, na Estação Pinacoteca, cinco trabalhos realizados entre 1978 e 2011, cujos temas são seu foco permanente de observação: sociedade e mídia, muitas vezes centrando-se em reflexões sobre o espaço público e o privado.

É o caso de Alphaville e Stadium, dois projetos contextualizados no Brasil. O primeiro, um vídeo, analisa o fenômeno urbano dos condomínios fechados, particularmente expressivo em São Paulo, e que gera a privatização do espaço urbano. À fragmentos do filme de Godard sobre a cidade fictícia que deu nome ao bairro paulista, Muntadas mescla imagens de muros, câmeras, catracas e portas para propor uma reflexão. O segundo trabalho integra a série Media Architecture Installations, em que os trabalhos incorporam a linguagem arquitetônica, neste caso enfatizando o estádio como espaço de comunicação, invertendo a posição do telespectador e deslocando-o para o centro do campo. Em Video is Television?, ao sobrepor palavras e imagens criando uma nova “paisagem”, ele propõe tratar da mídia como agente construtor de outra realidade. On Subjectivity compõe-se de uma publicação que reúne fotos extraídas da revista Life, cuja crítica recai na visão estereotipada de meios de comunicação e de um vídeo em que Muntadas ataca a televisão ao juntar duas tempestades – uma de neve e uma de informação. Por fim, nos vídeos On Translation: Fear/Miedo e Medo/Jauf, o artista volta-se para a sensação de medo a partir de tomadas e entrevistas com pessoas que vivem lado a lado em fronteiras como San Diego e Tijuana.

O fato é que os diferentes projetos desse artista espanhol, nascido em 1942, em Barcelona, também funcionam como trabalhos abertos, permitindo “múltiplos desdobramentos”, na opinião do crítico Adolfo Montejo Navas. Ainda porque, também são muitos os meios que Muntadas emprega: a fotografia, o vídeo, publicações, internet e instalações, tornando seu trabalho híbrido e, ainda segundo Navas, reconhecidamente “plural”.

Ana Cândida Vespucci é jornalista de cultura e assistente de redação da revista Nossa América, do Memorial da América Latina


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