Solo americano

Unsedimented Maps, 2012. Guache sobre papel, 88,99 cm x 66 cm foto Jason Wyche - Foto: Cortesia do artista e Galeria Marianne Boesky, Nova York
Unsedimented Maps, 2012. guache sobre papel, 88,99 cm x 66 cm
foto Jason Wyche – Foto: Cortesia do artista e Galeria Marianne Boesky, Nova York

Thiago Rocha Pitta acaba de abrir mostra individual de uma beleza que inspira reflexão e meditação. É a primeira dele nos Estados Unidos, e acontece na Boesky East, espaço da Marianne Boesky Gallery, no Lower East, Nova York. Uma das estrelas da Bienal de São Paulo de 2012, Rocha Pitta, artista multimídia que trabalha com vídeo, escultura e pintura, é conhecido principalmente por suas “colaborações” com a natureza que, ora retratadas na foto de um barco boiando no oceano, ora em uma aquarela de nuvens que se juntam, ou em um vídeo de linhas de mel que escorrem de uma rocha, geram uma meditação sensual e solene sobre fenômenos naturais. Por meio das intervenções que ele cria em ambientes externos, Rocha Pitta aproveita as forças, os processos e a beleza da natureza. O artista se interessa acima de tudo pela transformação e pela decadência, como meios de expressar a energia existencial dos processos naturais.

Rocha Pitta apareceu pela primeira vez em Nova York, em 2006, no PS1-MoMA, durante a Time Frame, mostra coletiva que explorou a compressão, a extensão e o espelhamento do tempo, curada por Neville Wakefield, com obras de Robert Smithson, entre outros. Essa exposição marcou a estreia norte-americana de Rio de Janeiro x São Paulo, Air Trip With Highway Time or Addressless Love Letter (2005), um vídeo filmado da janela de um avião, durante um voo de 45 minutos, da capital fluminense à paulista, quando o artista ia visitar uma namorada, e que teve seu tempo expandido para três horas e meia. A obra expressa nitidamente os esforços de Rocha Pitta para melhor especificar a nossa forma de se relacionar com o tempo, e o efeito da emoção sobre a sua duração.

Rocha Pitta tem uma movimentada agenda de viagens. Em setembro de 2014, na Galeria Millan, de São Paulo, ele revelou Oceano/Atlas, uma instalação de vídeo hipnótica que retrata um planeta com oceano invertido, e um barco de pesca que oscila de cabeça para baixo em um imenso mundo azul escuro aquático. Criado enquanto Rocha Pitta fazia residência artística em uma pequena vila de pescadores na Noruega, Oceano/Atlas é uma reflexão sobre o isolamento e os limites da relação da humanidade com a natureza. E agora, em Nova York, com Mapas Temporais de uma Terra Não-Sedimentada, que chega ao Instituto Tomie Ohtake em abril, dentro de uma mostra coletiva do Projeto Arte Atual, o artista está apresentando os resultados de suas visitas ao deserto argentino. Embora não seja um comentário político – sobre, por exemplo, a destruição ambiental no planeta, ou até mesmo a grave seca que afeta São Paulo e Rio de Janeiro –, os trabalhos oferecem um contraste vivo e formal de materiais e visões de mundo que marcam contrapontos diametrais.

"Ocean Atlas", 2014, Impressão em Tinta, 107,3 cm x 132,4 cm - Foto: Cortesia do artista e Galeria Marianne Boesky, Nova York
“Ocean Atlas”, 2014, impressão em Tinta, 107,3 cm x 132,4 cm – Foto: Cortesia do artista e Galeria Marianne Boesky, Nova York

O artista criou uma série com cinco vídeos. Em cada um, provocou uma operação física ilusoriamente pequena, em um terreno desértico, que resultou em uma transformação sutil, embora visualmente impactante, da aparência e da qualidade do solo. Cada filme, ou “mapa”, concentra-se em um fragmento de terra enquanto ele escorre, colapsa ou simplesmente se torna mais seco ou úmido. Mesmo que nenhum processo orgânico esteja envolvido, os vídeos se enchem de atividade e transformação em alusão inevitável a forças universais, como a entropia ou a morte. A cascata de areia ou o ressecamento de uma pequena corrente de água nos faz lembrar de que o dinamismo físico não é um privilégio apenas dos seres vivos. Nenhum mapa, nem mesmo os topológicos, é capaz de representar a totalidade do dano contínuo provocado pelo tempo.

Quando vistos individualmente, os vídeos de Mapas Temporais de uma Terra Não-Sedimentada oferecem perspectivas bem aproximadas de fenômenos naturais que funcionam como “afrescos digitais”, monocromáticos, refletindo as várias maneiras com que se pinta quadros, enquanto retratam as pequenas forças destrutivas que agem cada vez mais sobre o leito rochoso de nosso planeta. Individual e coletivamente, rendem uma oportunidade rica para se refletir sobre a vida e a natureza. A instalação possui o caráter hipnótico da areia que escorrega por uma ampulheta. Também na Boesky East, uma série de desenhos feitos com ferro oxidado, que se relacionam diretamente com o imaginário desértico dos vídeos, completa a exposição.

Mapas Temporais de uma Terra Não-Sedimentada
Até 22 de março
Boesky East – 20 Clinton Street – Nova York
www.marianneboeskygallery.com 

Que Partam as Lentes Empoeiradas – Projeto Arte Atual
De 1º de abril a 10 de maio
Instituto Tomie Ohtake
Avenida Faria Lima, 201 – Pinheiros – São Paulo – 11 2245-1900
www.institutotomieohtake.org.br


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