A edição da SP-Arte deste ano mostra um crescimento sustentado ao aumentar a participação de galerias estrangeiras, com trabalhos de qualidade. Em 2010 contou com a participação de 80 galerias, dez delas estrangeiras; neste ano são 90 inscritas, entre as quais, 15 internacionais. Os 13 milhões em vendas registrados em 2009 saltaram, no ano passado, para 15 milhões – marca que deve ser superada agora, entre 12 e 15 de maio. A feira ocupa o piso térreo e o primeiro andar do Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

As 90 galerias que movimentarão a feira apresentam obras de mais de 200 artistas: de nomes há muito tempo consagrados no cenário artístico, como o brasileiro Alfredo Volpi, que está, por exemplo, na Galeria Ipanema, até jovens talentos já conceituados, a exemplo de Cinthia Marcelle, representada pela Vermelho.
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Há um elenco significativo de artistas estrangeiros, como o inglês Julian Opie, com obra no estande da ArtEEdições.

O primeiro andar do pavilhão recebe os projetos especiais, vinte obras de grandes dimensões, instalações e vídeos. Entre eles, trabalhos de Regina Silveira, que está no estande da galeria Luciana Brito, e de Arthur Luiz Piza, no espaço destinado à Raquel Arnaud.

Haverá mesas redondas e falarão especialistas como Tadeu Chiarelli, curador do Mac USP, e Virgilio Garza, da Christie’s de Nova York.

No espaço criado pela Livraria da Travessa, estão programados lançamentos de livros sobre artistas relevantes no cenário contemporâneo.

Abaixo entrevista exclusiva com Fernanda Feitosa, presidente da SP-Arte, sobre a evolução do mercado brasileiro de arte.

Arte!Brasileiros: Como você vê a evolução do mercado de arte no Brasil desde a primeira edição da SP-Arte, sete anos atrás?
Fernanda Feitosa:
Do ponto de vista estatístico, os números por si já revelam uma grande evolução do mercado de arte brasileiro nos últimos sete anos. Quando a SP-Arte foi criada, em 2005, ocupava cinco mil metros quadrados, reuniu 40 galerias – sendo que apenas uma do exterior -, trouxe seis mil visitantes e foram negociadas obras num total de estimados U$D 3 milhões. Hoje, sete anos depois, a feira triplicou em área, passando a ocupar 13 mil metros quadrados. Mais que dobrou em número de participantes: em 2011 conta com 89 galerias, sendo 14 do exterior, e atrai mais de 16 mil pessoas. Em 2010, estima-se que tenham sido negociadas obras totalizando USD 15 milhões, ou seja, cinco vezes mais que a primeira edição. O perfil do público também mostra uma evolução: trata-se de um público mais jovem, na faixa etária entre 35 e 50 anos e, em geral, muito bem informado a respeito de artes visuais. Não é um público de passagem e, sim, um público interessado no tema. A formação de preço das obras tornou-se mais transparente, em parte acredito que pelo fato de se reunirem todos os players em um único momento. De 2005 para cá, o número de galerias que passou a participar de outras feiras internacionais como ARCO, Basel, Basel-Miami, Frieze, Maco, arteBA, ArtBo e PINTA, por exemplo, também cresceu muito. De um número restrito de apenas cinco ou seis galerias, antes todas provenientes de São Paulo (Luisa Strina, Millan, Raquel Arnaud, Brito Cimino e Fortes Vilaça), hoje em dia temos mais de uma dúzia de galerias, de cidades como Rio de Janeiro (A Gentil Carioca, Athena, Laura Marsiaj) e Curitiba (Ybakatu). O número de frequentadores do circuito, em geral, também cresceu. Hoje em dia, mais pessoas frequentam os vernissages, a Bienal, os clubes de gravura, fotografia e arte contemporânea dos museus e até mesmo as feiras internacionais. O MAM, por exemplo, já está com o número de associados do Núcleo Contemporâneo lotado desde 2010. Isso tudo são sinais da evolução, eu acho.

A.B.: Já existe um número significativo de colecionadores no Brasil fora do eixo Rio-SP?
F.F.:
O mercado de arte encontra-se concentrado na cidade de São Paulo, isso é fato, uma vez que a riqueza do País também está concentrada aqui. No entanto, o número de colecionadores fora do eixo Rio-SP vem aumentando aos poucos. 75% do público frequentador da feira é da capital paulista. 14% é do Rio de Janeiro e o restante de outras cidades, como Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Porto Alegre. 4% são colecionadores do exterior.

A.B.: É verdade que colecionador brasileiro só compra obra de artistas brasileiros?
F.F.:
Na minha opinião, e com base na convivência com vários jovens colecionadores, acho que isso deixou de ser uma verdade. Acho que já foi uma verdade se pensarmos nos colecionadores das gerações anteriores, que se concentraram no movimento modernista brasileiro. Os colecionadores veteranos, por assim dizer, tinham um interesse realmente mais voltado para a própria arte brasileira. Isso talvez explique a escassez de arte brasileira moderna nos grandes leilões internacionais da Sotheby’s e Christie’s. Ir a feiras internacionais não era um hábito há 10, 15 anos. De oito anos para cá, os jovens colecionadores têm frequentado cada vez mais as grandes feiras e a partir daí, além da arte contemporânea nacional, o interesse pela arte contemporânea internacional também vem crescendo. Por esse motivo, acredito eu, as galerias internacionais também estão encontrando motivos para participar da SP-Arte: para ter acesso e contato mais direto com estes colecionadores.

A.B.: Você acha que os preços que a arte contemporânea brasileira tem atingido são sólidos?
F.F.:
Os preços dos artistas brasileiros realmente estão subindo, em certa medida estimulados pela demanda intensa do mercado e também pelo otimismo da economia nacional nos últimos três anos, em especial. No entanto, acho que artistas brasileiros importantes ainda têm preços aquém de seus pares internacionais de mesmo calibre. Não há motivo para um Waltercio (Caldas, artista brasileiro) custar menos que outros artistas estrangeiros de sua geração.

A.B.: Qual a sua opinião sobre os fundos de investimento lastreados em obras de arte?
F.F.:
Não tenho uma opinião formada a respeito e acho um tema bastante difícil. Tenho receios de que fundos de investimento estejam mais sujeitos e se comportem mais como instrumentos e agentes que induzem a uma especulação, do que como colecionadores – o que, neste caso, é um desserviço para a arte e para o artista. Como fazer, por exemplo, em um vernissage no mercado primário: quem deve ter preferência sobre as obras,o colecionador ou um fundo?

A.B.: Se você fosse começar uma coleção de arte hoje, que critérios adotaria?
F.F.:
O critério de ouro, se eu fosse citar um, é a paixão e o gostar da obra. Deve-se comprar o que se gosta em primeiro lugar, pois a obra passa a integrar sua vida, seus ideais, sua filosofia ou princípios. Ela é uma tradução de suas ideias e paixões. Como não se pode comprar tudo, acho que ter algum critério de período ou fase, tema ou suporte, ajuda a manter o foco da coleção. Por exemplo: obras de um período de 1950 a 70, obras dos anos 1980, fotografia modernista, paisagens, arte jovem contemporânea etc.

A.B.: Em que medida o interesse de colecionadores estrangeiros pela arte brasileira aumentou?
F.F.:
O interesse de colecionadores pela arte brasileira tem aumentado também, acredito que, em grande parte, influenciado pelo trabalho realizado e presença cada vez maior de galerias brasileiras nas grandes feiras de arte. Esse interesse também se faz notar nos museus que estão dedicando mostras importantes a nossos artistas, a exemplo de Hélio Oiticica e Cildo Meireles na Tate (além da futura mostra de Lygia Pape no mesmo local, prevista para 2012) e Mira Schendel e Lygia Clark no MoMA. Além disso, alguns artistas brasileiros estão sendo convidados a realizar site-specifics (ou “arte ambiente” – obras criadas de acordo com o ambiente e com um espaço determinado), como Ernesto Neto no Pantheon e no Armory NY, Tunga no Louvre, entre outros. A união de todos estes fatores ajuda muito a dar credibilidade à arte nacional.

A.B.: Quais são as expectativas para esta sétima edição?
F.F.:
Esta sétima edição promete muita disputa, estamos torcendo! Muitas galerias estão vindo do exterior, especialmente para observar a feira nacional, seus artistas e o comportamento dos colecionadores locais.
Terão uma grande surpresa!


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