SP-Arte: diferentes opções para públicos diferentes

Público durante a SP-Arte. Crédito: Patrícia Rosseaux
Público durante a SP-Arte. Crédito: Patrícia Rosseaux


A semana da SP-Arte,
  que acontece há 13 anos, criou nesta edição novos espaços de visitação na cidade com iniciativas como o Gallery Night e o esforço de museus e instituições públicas e privadas em caprichar nas suas mostras.

Centenas de pessoas se deslocavam de galeria em galeria, de galeria a museu, dando uma parada para um sanduíche num food truck ou uma taça de vinho ou uma cerveja. O que se viu e ouviu foi um encontro agradável, uma boa discussão, visitas guiadas, comparação e observação sobre obras, suportes e artistas nem tão conhecidos por um público mais inexperiente, mas muito atento.

Esta edição de ARTE!Brasileiros se aprofunda em algumas das mostras abertas naquela semana. Especialmente a magnífica exposição Pedra no Céu Arte e Arquitetura de Paulo Mendes da Rochacom curadoria do Cauê Alves, no MuBE – Museu Brasileiro de Escultura.

A galeria Casa Triângulo apostou na primeira individual de Nino Cais, Ópera do Vento. O artista, que ingressou recentemente no seu elenco, aborda, entre outros temas, o caráter imaterial da obra de arte e mostra que seu trabalho só está crescendo.

Na galeria Mendes Wood, Paulo Nazareth reuniu as séries Produtos do Genocídio – pesquisa sobre organizações que se utilizam de elementos indígenas e nomes afros – e Bestiário Capital, com desenhos de animais retirados de logomarcas, como, por exemplo, o coelho da revista Playboy.

A liás, vários objetos de consumo apareceram nos estandes metabolizados em obras de artistas mais jovens, numa espécie de eterna repetição do pop. A feira em si incluiu várias galerias nacionais e internacionais,  com uma enorme diversidade de ofertas. Algumas internacionais mostraram um real investimento ao se apresentar ao mercado brasileiro. A Thaddaeus Ropac, de Paris e Londres,  trouxe duas enormes esculturas de Georg Baselitz que, segundo foi comunicado à artnet News  pelo diretor de operações Markus Kormann, foram adquiridas por um grande colecionador brasileiro. David Zwirner vendeu uma tela de Yayoi Kusama; e Oscar Murillo, peças de Francis Alÿs, Lisa Yuskavage e Wolfgang Tillman. A White Cube apresentou obras de Gabriel Orozco, Damien Hirst e Antony Gromley. Sem dar detalhes, seu diretor comentou ter tido bons resultados nas vendas.

De Londres, a Richard Saltoun apresentou uma escultora austríaca, Renate Bertlmann,  que trabalha quase exclusivamente com latex há anos, usando seu corpo como suporte, abordando sexo, amor e relacionamentos; e a White Rainbow, fotografias do japonês Shigeo Anzaï, que se especializou em retratar a história, o trabalho e as obras de artistas.

No novo espaço Repertório, curado pelo Jacopo Crivelli Visconti, a Galeira Marian Goodman, de Nova York, Paris e Londres, trouxe Lothar Baumgarten num trabalho formado por porcelanas, desenhos e folhagens construído a partir de sua pesquisa nos rios da Amazônia.

A Galleria Continua, de San Giminiano, Beijin e Havana, trouxe um solo de Michelangelo Pistoletto, o mais proeminente protagonista da Arte Povera na Itália do século XX.

É inegável que o público da SP-ARTE privilegia as obras de artistas brasileiros. Assim, é natural que galerias nacionais e internacionais tentem atender melhor essa demanda. Com a proliferação de feiras no mundo,  elas têm focado seus esforços nas demandas dos seus parceiros e públicos locais. 

Das galerias nacionais, a Nara Roesler teve duas peças compradas para serem doadas à coleção da Pinacoteca: uma escultura de Arthur Lescher e uma pintura de Bruno Dunley.  Peças do seu elenco – Palatinik, Sergio Sister, Carlito Carvalhosa  e Tomie Ohtake – e trabalhos da coleção Handmade de Vik Muniz foram adquiridos por vários colecionadores brasileiros.

Segundo a Fortes D´Aloia & Gabriel, o estande foi vendido por inteiro nos dois primeiros dias. Jac Leiner, Nuno Ramos, Lucia Laguna, Iran do Espírito Santo e Luiz Zerbini foram alguns dos artistas expostos. E  Luisa Strina vendeu Lygia Pape, Fernanda Gomes, Renata Lucas e Cildo Meireles.

A Galeria Marilia Razuk trouxe a artista colombiana Johanna Calle, que retorna com a exposição Babel. Drawings by Johanna Calle, sua terceira individual no espaço, que permanece na cidade até 20 de maio.

A Galeria Carbono-Edições Contemporâneas cria uma alternativa de excelente qualidade para quem aprecia uma obra, mas não tem absolutamente condições financeiras de possuir um original. Com artistas escolhidos, desenvolve edições de múltiplos com séries reduzidas. Desde uma videoescultura do chileno Enrique Ramírez, que vive e trabalha em Paris, até uma série de pinturas de Paulo Pasta, passando por múltiplos em acrílico de Julio Le Parc e Carlos Cruz-Diez e fotografias digitalizadas de obras de Adriana Varejão.

O setor de design, presente pelo segundo ano consecutivo na feira, tende a crescer e despertar interesse. Um painel especial sobre esse tema foi desenvolvido nos Talks.

Dentre as instituições que trabalharam este ano em parceria com a SP-Arte se destacou a abertura, no Galpão Vídeo Brasil, da exposição Nada Levarei Quando Morrer, Aqueles que Me Devem Cobrarei no Inferno. Um dos pontos altos da mostra é a videoinstalação Yano-a (Wakata-ú – Terra Indígena Yanomami), 2005, de Claudia Andujar, Gisela Motta e Leandro Lima. A exposição fica em cartaz até 17 de junho.

Alice Shintani (Galeria Marcelo Guarnieri) e Regina Parra (Galeria Millan) foram as ganhadoras do Prêmio de Residência SP-Arte de 2017, que fornece duas residências artísticas todo ano. Shintani irá para a Delfina Foundation, em Londres (Reino Unido), enquanto Parra passará temporada na Residency Unlimited (RU), em Nova York (EUA) – ambas com duração de dois a três meses. Esta semana, que todo ano estimula debates, informação e negócio, é fundamental contra qualquer sintoma de estagnação ou tendências que levem ao retrocesso da cultura brasileira.


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