Nosso desconhecimento e egocentrismo do Sudeste nos faz pensar que em São Paulo e no Rio de Janeiro estão os melhores artistas e espaços de difusão cultural.
Belém, nos últimos dez anos, criou o Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM) e de restauro da cidade, o projeto Feliz Lusitânia, que pretendeu recuperar o núcleo histórico da colonização portuguesa antes do Ciclo da Borracha. Criou equipamentos, como o Museu de Arte Sacra de São José Liberto, Museu das Gemas, Museu do Círio, a Casa das Onze Janelas, Museu do Forte do Presépio, Museu de Arte de Belém, o Instituto de Arte do Pará (IAP) e o Museu Amazônico da Navegação. Além do Museu da Universidade Federal do Pará, o Museu do Estado do Pará e outros projetos encaminhados, como o Museu de Imagem e Som.
A cultura marajoara e tapajônica no acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi (consagrado mundialmente desde sua fundação em 1866) testemunha o complexo cultural existente na raiz de formação do povo amazônico, 30 mil anos antes da chegada dos holandeses, ingleses e portugueses.
A resposta à pergunta inicial parece encaminhada. A complexidade cultural da região formou o artista e o cidadão paraense muito antes da chegada da fotografia. A cidade recebeu Fidanza, Girard, Oliveira e Julio Siza (avô de Tereza e Álvaro Siza) no século XIX, registrando as mudanças da modernidade.
A fotografia não comercial ressurgiu com o Foto Cine Clube nos anos 1950, movimento criado em todo o Brasil, destacando-se Gratuliano Bibas em Belém (que deu nome à coleção de Fotografia Paraense, criada em 2000, e que faz parte do acervo da Casa das Onze Janelas). Em 1970, Luiz Braga começava a investigar a técnica e era o mais jovem membro do Clube. Miguel Chikaoka (nascido em Registro-SP) aportava na cidade, em um retorno ao Brasil depois de um período vivido na França. Essa conjunção mista inicial, digna dessa história, implantou um perfil fundamental para a fotografia que apreciamos hoje.
Luiz Braga desenvolveu o melhor da fotografia de estúdio, enquanto Miguel Chikaoka dedicou-se à formação e desenvolvimento do olhar, com a Fotoativa (1984), uma instituição criada para se dedicar a pesquisa, criação e difusão da fotografia, em parceria com Makiko Akao e outros fotógrafos também responsáveis pela continuidade dessa história.
Vamos destacar aqui a agência Kamara Kó, criada por Makiko Akao e Chikaoka, em 1991. Desse movimento surge a galeria de mesmo nome, em 2011, justamente para ampliar as possibilidades de participação da fotografia paraense no mercado.
Braga e Chikaoka se consagram internacionalmente em bienais e mostras pelo mundo, enquanto Makiko Akao estruturou o cenário para os que trabalham na região. Com essa herança anterior e com o respaldo de trabalho desde 1984 dos tempos da Fotoativa, ela reúne em sua galeria o melhor da fotografia paraense com muita responsabilidade.
Os fotógrafos do acervo cresceram com esses projetos da Fotoativa, da agência e galeria: Alberto Bitar, Alexandre Sequeira, Claudia Leão, Flavya Mutran, Guy Veloso, Mariano Klautau Filho, Miguel Chikaoka, Octavio Cardoso e Walda Marques.
Além dos novos agregados, e igualmente talentosos, como Armando Queiroz, Anita de Abreu e Lima, Bob Menezes, Danielle Fonseca, Ionaldo Rodrigues, Keyla Sobral, Pedro Cunha e Roberta Carvalho.
A pergunta do início, depois dessa participação da Kamara Kó na SP-Arte/Foto, foi respondida. E outra pergunta que certamente virá: Kamara Kó significa amigos verdadeiros – irmãos; originária da língua tupi, praticada pelos índios Waiãpi (habitantes da fronteira Norte do Brasil).
a SP-Arte/Foto amadureceu
Compradores interessantes e interessados, ágeis, movimentam-se com um foco, procurando nomes e trabalhos, sabendo o que querem.
São 25 galerias nacionais, sendo quatro estreantes: A Casa Da Luz Vermelha, de Brasília; Kamara Kó, de Belém; Eduardo Fernandes e Jaqueline Martins, de São Paulo; e a Galeria Tempo, do Rio de Janeiro, que cumpriram seu papel trazendo trabalhos inovadores, direcionados ao mercado de São Paulo.
A Casa da Luz Vermelha foi uma atração. O grande painel formado por quatro imagens de Kazuo Okubo foi a sensação da feira que mostrou que precisa também de novidades.
Miguel Chikaoka, o grande mentor da consistente fotografia paraense, apareceu pela primeira vez e foi adquirido logo no primeiro dia da abertura. Os preços me pareceram mais adequados e os nomes consagrados não apresentavam novidades.
A mostra de fotografias vintage dos participantes do Foto Cine Clube Bandeirante me pareceu inadequada. Originais frágeis, expostos em uma área com muita luminosidade e calor, nitidamente sofrendo com a temperatura. Uma mostra digna de um museu bem equipado e não expostas em um lugar de passagem como na feira.
As atividades paralelas me pareceram mornas e vazias, poderiam ser mais direcionadas ao público frequentador que ao fotógrafo. Os frequentadores e colecionadores desse tipo de feira se interessam por entrevistas com fotógrafos? Estariam interessados nas atividades que me parecem voltadas para a formação?
Talvez fosse interessante atrair novos públicos com atividades mais dinâmicas e instigantes que a fotografia e o colecionismo possam proporcionar e desfrutar.
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